Há exatos 60 anos, 9 de setembro de 1965, o Brasil deu um dos passos mais importantes na construção de uma sociedade moderna ao regulamentar a profissão de Administrador (Lei 4769/65). Era o reconhecimento formal de que gerir organizações, recursos, projetos e pessoas exige muito mais do que improviso ou boa vontade: exige técnica, ciência e ética. No entanto, seis décadas depois, permanece a pergunta incômoda: somos realmente uma nação que respeita e valoriza seus profissionais de Administração? Ou seguimos prisioneiros do improviso, relegando ao segundo plano quem tem formação, preparo e missão de liderar o desenvolvimento com eficiência e responsabilidade?
O Brasil atravessou, durante essas seis décadas, avanços significativos no campo da gestão — públicos e privados — mas também acumulou graves crises provocadas, majoritariamente, pela ausência de um planejamento estratégico sério, contínuo e conduzido por profissionais qualificados. Quantas vezes assistimos a setores públicos serem entregues a ocupantes sem preparo, fruto de indicações políticas, enquanto Profissionais de Administração capacitados ficam à margem dos cargos decisórios? Nas empresas privadas, não raro, a gestão acaba sendo relegada ao “achismo” ou à rotina, ignorando técnicas e práticas fundamentais que poderiam impulsionar produtividade, inovação e sustentabilidade.
A questão central é simples, mas urgente: por que, após 60 anos, seguimos como uma nação que valoriza pouco — ou quase nada — o Administrador? Por que, diante de tantos desafios estruturais e sociais, insistimos em fórmulas improvisadas, em vez de adotar um planejamento profissional, pautado na ciência da Administração?
É preciso assumir, de uma vez por todas: profissionais de Administração — técnicos, tecnólogos, bacharéis, mestres e doutores — têm formação única, marcada pela multidisciplinaridade, pela compreensão sistêmica dos desafios organizacionais e pelo compromisso ético com a entrega de resultados. Negar-lhes reconhecimento, espaço e autonomia é desperdiçar talentos e abrir espaço para o fracasso, seja em governos, empresas, ONGs ou associações.
Muito se fala sobre a necessidade de reformas profundas no Brasil. Mas qual reforma é mais urgente do que a mentalidade que desvaloriza o saber técnico-científico? Qual avanço real virá se não reconhecermos que o desenvolvimento sustentável de uma nação depende, acima de tudo, de planejamento sério — e tal planejamento só é possível com Administradores respeitados, ocupando posições estratégicas conforme sua formação e competência?
É hora de mudar. Precisamos de:
Reconhecimento efetivo da profissão, com salários dignos e respeito à legislação.
Presença real dos Administradores nos conselhos, entidades e instituições públicas e privadas.
Indicação técnica, e não política, para cargos de gestão.
Incentivo à formação continuada e valorização dos diferentes níveis da carreira (do Técnico ao Doutor).
Um pacto nacional pelo planejamento estratégico, colocando a Administração no centro das soluções para os grandes problemas nacionais.
Enquanto o improviso for regra, continuaremos a tropeçar nos mesmos erros. Mas há outro caminho — e ele começa pelo respeito e protagonismo dos Profissionais de Administração. Que os próximos anos tragam, enfim, o reconhecimento merecido àqueles que têm a missão (e o saber) de planejar, organizar, dirigir e controlar o futuro deste país.
Administrar não é apenas um verbo. É uma responsabilidade histórica, social e ética. O Brasil precisa, sim, respeitar quem sabe administrar. E precisa disso, urgentemente.