Entre Sílvio e Senor
O Brasil ainda está de luto pela perda de uma de suas figuras mais emblemáticas, parte pujante da nossa cultura popular, o carioca mais paulistano que conhecemos: Senor Abravanel. Como muitos artistas, ele optou por usar um pseudônimo para sua participação em um programa de calouros: “Silvio” veio de sua mãe, que achava o nome mais simples, enquanto “Santos” foi escolhido por ele, explicando que pedia ajuda divina antes de se apresentar: “os santos ajudam”. O curioso é que ele era judeu.
Muito determinado, sempre buscou a sorte. “O Senor” nasceu pobre, foi camelô e “O Silvio” faleceu como bilionário. O carisma e a proximidade que ele tinha com o público, além de sua consistência, transformaram este nome em uma marca, ou melhor, várias.
*Risos e alegria viram marca pessoal*
A alegria foi um motor constante ao longo de sua trajetória, desde um de seus primeiros trabalhos nas barcas do Rio, divertindo as pessoas no trajeto Rio-Niterói, até sua carreira como apresentador no rádio e depois na TV. Seu sorriso constante levava alegria para os lares brasileiros. Suas criações, sempre autênticas, como os arremessos de dinheiro com dobradura em formato de aviõezinhos e os quadros dos seus programas, eram marcadas por uma sinceridade exagerada que provocava risos, mesmo que fossem de constrangimento.
Como marca pessoal, Silvio criou muitas associações e manteve a consistência ao longo dos anos, construindo uma identidade própria e inconfundível. Sua imagem pessoal, sua maneira de se vestir nos programas – sempre com terno, gravata e aquele microfone pendurado – se tornaram icônicas. Suas frases emblemáticas, como “Ma oê” e “Quem quer dinheiro?”, tenho certeza que você leu pausando as palavras, como ele fazia. Essas características se tornaram tão marcantes que, mesmo com imitações e paródias, em vez de diluir sua identidade, acabaram por reforçar sua originalidade. Isso é o verdadeiro poder de uma marca bem construída: autenticidade que resiste ao tempo e às influências externas.
*O empreendedor por trás do comunicador*
No campo empreendedor, Silvio Santos foi tão resiliente quanto suas raízes. Ele criou a Jequiti, uma marca de cosméticos cuja logomarca era inspirada em sua própria assinatura; fundou o Banco Pan, que se expandiu por diversas agências no Brasil; e o SBT, a emissora que desafiou diretamente o monopólio da Globo.
Um estrategista ousado, Silvio desenvolvia maneiras originais de enfrentar a concorrência. Em agosto de 1988, por exemplo, o SBT programou a exibição de Rambo: Programado para Matar para o mesmo dia em que a Globo transmitiria Rambo II. Ao perceber o movimento da rival, Silvio reagiu estrategicamente, adiando a exibição do filme para a semana seguinte. Mas a Globo não recuou, exibindo um capítulo duplo da novela Vale Tudo na mesma data. Determinado a não ceder, o SBT congelou a tela por 50 minutos com a mensagem: “Não se preocupe, quando terminar a novela da Globo, você vai ver Rambo”. Essa jogada audaciosa garantiu a vitória do SBT na audiência, mostrando o talento de Silvio para superar desafios com criatividade.
Mesmo falecendo aos 93 anos e tendo vivido bem, muitas pessoas ficaram abaladas com sua partida. Afinal, não é fácil dizer adeus a alguém que sentimos como parte de nossos lares – e que realmente foi. Silvio Santos deixa uma história de vida que orgulha os brasileiros e que se manterá viva, assim como sua marca pessoal. Ao nos despedirmos de Silvio, celebramos o sorriso e a alegria que ele nos proporcionou e que deixará saudades.