ARACAJU/SE, 5 de fevereiro de 2025 , 6:36:34

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A maratona do sebinho

Não é o caso da canção do sabiá que fugiu da gaiola, a começar pelo fato de que em minha casa não há gaiola. Os pássaros são criados completamente soltos. Nem tampouco há uma menina, ou seja, a dona do sabiá, a lhe pedir que volte. Aliás, pedir, não, implorar, como se o sabiá pudesse nutrir  consideração por quem o manteve encarcerado tanto tempo. Aqui o fato é outro, tendo de comum apenas a presença de um pássaro, da raça dos sebinhos. O real é que entrou na minha casa, ficando a sobrevoar a área da escada, indo de um ponto a outro, até que eu percebi. Pensei, a princípio, que fosse filhote de morcego pelo tamanho minúsculo. Estava na cara que não era.

Começou, então, o drama de criar espaço para tirar o sebinho do atoleiro. Portas e janelas abertas, muita cautela nos passos, a fim de evitar que a ave se alterasse e voasse na cega, vindo a se chocar com alguma superfície sólida, e, daí a brusca passagem dessa para outro mundo. Nada de pressa, nem de gestos bruscos, ainda pior de qualquer barulho. O sebinho não podia ficar azoado. O termo cai bem.  Me lembrei da parede do oitão da casa do sítio de vovô Aristides, que muito  passarinho, geralmente rolinha fogo-apagou, no período da tarde, o sol batendo na parede branca, se chocava e caia, exigindo que mamãe o colocasse em cuia de cabaça, na busca, sempre positiva, da vítima se recuperar. Aqui não tinha mamãe, nem parede branca, nem vasilha feita de cabaça. Apenas um sebinho aflito, que nem podia ficar cansado, o risco do coração não suportar os voos de um lugar para outro, enquanto não percebia que havia espaços para escapar.

Bem, o passarinho encontrou o caminho para o seu esvoaçar de ave livre, graças a todos os bons deuses dos passarinhos. Qual porta se utilizou, ou de qual janela fez uso, não sei informar. O real é que não se cansou, não morreu, soube ir de encontro a liberdade, nem era o sabiá para ouvir os apelos da menina escravocrata. Depois, eu, na varanda da casa, copo de cerveja na mão, o almoço prestes a ser servido, vi o sebinho, o que estava na escada voando para todo lado, equilibrado no fio que segura a vasilha de água com açúcar destinada a beija-flor, bem perto de mim. Não se assustou com a minha presença. Ficamos os dois a nos fitar por algum tempo. Fiquei convicto de estar me agradecendo pelo esforço que fiz para lhe salvar.