Por mais que o brasileiro esteja habituado a notícias de corrupção, a operação Sem Desconto, revelada pela Polícia Federal nesta semana, consegue ultrapassar os limites da canalhice. Um rombo de R$ 6,3 bilhões foi aplicado com frieza sobre aposentados e pensionistas – justamente aqueles que mais dependem do mínimo para viver.
A engrenagem do golpe? Descontos indevidos nos contracheques de milhões de beneficiários, por parte de entidades “parceiras” do INSS, em nome de mensalidades sindicais que os idosos jamais autorizaram. E o mais escandaloso: com a anuência de gente graúda dentro do próprio Instituto Nacional do Seguro Social.
É estarrecedor que, num país onde a Previdência Social vive sob a constante ameaça de colapso, com déficits crônicos e um discurso recorrente de que “falta dinheiro”, uma estrutura criminosa desse porte tenha se enraizado no próprio sistema que deveria proteger o trabalhador. Como é possível que bilhões sejam desviados sob o olhar complacente – e, em muitos casos, cúmplice – da alta gestão? O presidente do INSS foi afastado e exonerado. Outros servidores de alto escalão também caíram. Mas a pergunta que fica é: quantos mais estão lá, silenciosamente, participando da pilhagem?
Enquanto isso, os aposentados recebem migalhas. Muitos trabalharam por 30, 35, até 40 anos e hoje vivem com pouco mais de um salário-mínimo, mal dando conta de pagar medicamentos e aluguel. A reforma da Previdência veio com a promessa de equilíbrio fiscal e “justiça”, mas não cortou os privilégios do topo nem impediu que o fundo do poço fosse escavado por dentro. Afinal, como sustentar qualquer discurso de “responsabilidade previdenciária” quando bilhões evaporam nas mãos de máfias institucionais, abrigadas no coração do Estado?
Este escândalo não é um ponto fora da curva. Não é a primeira vez que o INSS se vê envolvido em fraudes milionárias. Ao longo dos anos, o órgão tem sido palco de corrupção, seja por fraudes em concessões de benefícios, seja por envolvimento de servidores em esquemas com advogados, médicos e atravessadores. É como se houvesse uma casta dentro da máquina pública que se especializou em viver da miséria alheia, vampirizando o sistema sob o manto da burocracia.
A perversidade desse caso vai além do montante. É uma violência simbólica contra quem acreditou que ao contribuir, mês a mês, teria um mínimo de dignidade no futuro. É um tapa na cara de cada trabalhador que ainda sustenta essa estrutura com descontos compulsórios. E o mais grave: mostra que a falência da Previdência não é só contábil – é moral.
Se o Brasil realmente quiser preservar seu pacto previdenciário, precisa antes de tudo varrer o lixo que se acumula nas suas entranhas. Sem justiça, sem transparência e sem responsabilização dura, seguiremos condenando gerações a financiar seus próprios algozes.