ARACAJU/SE, 5 de outubro de 2025 , 16:11:30

A Saúde Mental dos Médicos Brasileiros em Alerta

O Brasil vive, em 2025, uma verdadeira epidemia de saúde mental que atinge diversos segmentos da população. Entre os mais afetados estão os profissionais médicos, que enfrentam uma sobrecarga emocional crescente, agravada por fatores estruturais, culturais e institucionais. A pressão por produtividade, jornadas exaustivas e o contato constante com o sofrimento humano têm gerado um cenário preocupante de esgotamento, ansiedade e depressão entre médicos em todo o país.

Segundo levantamento do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), houve um aumento de 44,5% nas consultas psiquiátricas nos últimos cinco anos, passando de 3,4 milhões para 4,9 milhões. Embora esses dados incluam a população geral, especialistas apontam que médicos estão entre os grupos que mais buscam ajuda, muitas vezes de forma tardia, por medo do estigma ou da perda de credibilidade profissional.

Estudos internos de conselhos regionais de medicina indicam que cerca de 30% dos médicos brasileiros relatam sintomas compatíveis com transtornos mentais, como ansiedade, depressão e burnout. Em algumas especialidades, como emergência e oncologia, esse número pode ultrapassar 50%. O número de afastamentos por questões emocionais também dobrou em algumas regiões, evidenciando que o sofrimento psíquico não é mais invisível.

Entre os principais fatores que contribuem para esse cenário estão: Jornadas excessivas: Muitos médicos trabalham em múltiplos vínculos, acumulando plantões e atendimentos sem pausas adequadas. Pressão por resultados: A cobrança por produtividade e eficiência, especialmente em hospitais privados, gera um ambiente de constante tensão. Contato com o sofrimento: A exposição diária à dor, morte e situações-limite afeta profundamente o equilíbrio emocional. Estigma profissional: A cultura médica ainda valoriza a resiliência extrema, tornando difícil para o profissional admitir fragilidade ou buscar ajuda. Falta de suporte institucional: Muitos hospitais e clínicas não oferecem programas estruturados de apoio psicológico ou espaços de escuta.

As entidades médicas têm começado a reconhecer o problema, mas as ações ainda são tímidas frente à dimensão da crise. O Conselho Federal de Medicina (CFM) e alguns conselhos regionais lançaram campanhas de conscientização e criaram canais de escuta, como linhas telefônicas de apoio psicológico. No entanto, a cobertura ainda é limitada e não alcança todos os profissionais, especialmente os que atuam em cidades do interior.

A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), vinculada ao SUS, oferece serviços como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), mas enfrenta desafios como falta de profissionais, longas filas de espera e infraestrutura precária. Além disso, muitos médicos evitam buscar ajuda na rede pública por receio de exposição.

No setor privado, há uma crescente demanda por atendimento psicológico e psiquiátrico, mas os planos de saúde nem sempre cobrem adequadamente esse tipo de serviço. Consultas mais longas, necessárias para um bom acompanhamento, são frequentemente recusadas pelos convênios, obrigando o paciente a arcar com os custos ou interromper o tratamento.

Especialistas apontam que enfrentar essa crise exige uma abordagem multifacetada: Mudança cultural: É preciso desconstruir a ideia de que médicos devem ser imunes ao sofrimento. A vulnerabilidade precisa ser reconhecida como parte da condição humana. Investimento institucional: Hospitais e clínicas devem implementar programas permanentes de apoio emocional, com psicólogos disponíveis e espaços de escuta ativa. Educação médica: As faculdades de medicina devem incluir disciplinas sobre saúde mental e autocuidado, preparando os futuros profissionais para lidar com os desafios emocionais da carreira. Políticas públicas: O governo precisa ampliar o financiamento da RAPS e garantir que médicos tenham acesso rápido e confidencial ao cuidado psicológico.

O sofrimento mental dos médicos não é apenas um problema individual — é uma questão de saúde pública. Profissionais emocionalmente abalados têm maior risco de erros, menor capacidade de empatia e podem abandonar a carreira precocemente. Cuidar da saúde mental dos médicos é, portanto, cuidar da qualidade do atendimento à população.

Se 2025 marca a consolidação de uma crise silenciosa, também pode ser o ponto de virada para uma nova consciência coletiva. Reconhecer o problema é o primeiro passo. O segundo é agir — com coragem, empatia e compromisso institucional.