Dia desses eu estava lembrando a importância que as manifestações artísticas têm na vida das pessoas. Literatura, música, dança, enfim, tudo que sobressalta uma visão de mundo em forma de arte dá sabor ao que nos rodeia. E que sabor! Aos meus alunos de Literatura, tenho sempre o cuidado de dizer o quão é importante estar perto do fazer artístico. A poesia, por exemplo, tem o dom de encantar, “de adormecer as crianças e acordar os homens”, como bem cantou Carlos Drummond de Andrade.
E mais fundamental ainda é poder enxergar a poesia que a vida nos concede, gratuitamente, todos os dias, sob diversas formas: um sorriso de criança (que nos faz refletir sobre a pureza mais pura), um sorriso de adulto (atributo que está ficando cada vez mais escasso no rosto das pessoas), o canto e o voar dos pássaros (que nos remete à liberdade de que dispomos ou não), o entardecer e suas cores únicas (mostrando que também somos únicos e especiais), as ondas do mar (servem para nos dizer que não somos eternos, mas somos fortes quando queremos), a brisa no rosto (traduzida no cuidado de Deus conosco), a comida que preparam pra nós (demonstra que existe doação de vida de uma pessoa para outra)… e mais uma infinidade de coisas que nos rodeiam.
Mas quer saber? Quantas vezes conseguimos enxergar poesia diante de tanta obrigação, de tantos afazeres, de tantas necessidades que criamos e que são criadas, tornando-nos “escravos” de um devir (leia Parmênides) sem fim. Sem estamos em torno da mesma volta. Ao entrarmos nesse fluxo contínuo de ter que ser, deixarmos de ser. Que paradoxo mais sem nexo, não é? Mas é assim.
Tomara que eu nunca esqueça que há poesia constante em tudo. E que meus alunos possam me escutar. Assim, entenderão que leveza é TUDO. E já que falei em poesia, veja uma amostra do que estará no meu livro “Estrada de pedra e rosas”:
se o tempo fora passagem inerte dos destinos
há que se desculpar quem passou despercebido
e se o mesmo tempo já fora um menino
eleva-se a estima em único sentido
mas se já não sobra tempo ao que já é ido
hão de se calar todos os alaridos
e ouvir calar o sopro dos que vêm
nas vozes dos que já são partidos
DIAS
por que pedes que eu me cale
se nem voz mais tenho para alarde
apenas em meu peito vil se arde
a dor do meu amor que me invade?
por que queres que me deite
se teu cheiro insano me impede
de negar o que quero que se negue
neste dia tão atroz que não se perde?
por que ris de meu amor tão pueril
se dele recebeste todo um rio
de água pura, de vento frio
tornando-o, portanto, um poço vil?
por que me matas desta forma enfurecida
sem ao menos dar um pouco de guarida,
abrindo em mim tão cálidas feridas
cujo tempo de curar é toda uma vida?
LANGOR