ARACAJU/SE, 14 de março de 2025 , 13:44:40

Acusando o sabiá-de-praia

Faço saber a quem interessar possa, ou melhor, a autoridade a quem competir apurar a infração,  que, na manhã de hoje, às 9,10 horas, um sabiá-de-praia tentou invadir meu veículo, estacionado no gramado, em frente à minha casa. A ave estava sozinha e não portava nenhuma arma. Primeiro, aterrissou no para-brisa. Depois, passou para o retrovisor. Em seguida, deu algumas bicadas no vidro do carro, lado direito, mantendo as asas em situação de voo, a fim de poder se equilibrar. Não teve nenhum sucesso. Continuou tentando a invasão. Então, resolveu atacar pela frente, escorregando na tentativa de subir o para-brisa, em escorregos contínuos, o esforço danado para se equilibrar. O episódio seguinte foi o recuo, voando e pousando na fiação elétrica em frente da casa. Esclareço a autoridade devida que fotografei alguns atos da ave, de modo que, caso seja possível ouvi-la, – todos os sábias-de-praia são infalivelmente parecidos, para não dizer iguais, – envio cópia das fotos a fim de anexar aos autos do inquérito.

A tentativa não terminou aí. Minutos depois, o sabiá-de-praia voltou a pousar no para-brisa, o que foi constatado pelos dois cães, que se encontravam ao meu lado, – um casal simpático, Tobias, o buldogue; e Luna, a cadela de origem desconhecida, ambos doidos por um motivo para latir e correr atrás de alguma coisa, que, notando a ousada presença do pássaro, fizeram o que só sabem fazer: latir e correr atrás. O sabiá-de-praia não se deixou pegar: voou e não voltou mais.

Acho que me precipitei ao limpar o retrovisor das defecadas do pássaro. Sei que é raro, na bibliografia policialesca, o infrator defecar no local do delito. O sabiá-de-praia o fez. Por três vezes, sem dar a mínima importância a minha presença. O  retrovisor foi lavado, e, a prova, a meu favor, no aspecto, desapareceu. Não deveria ter mexido no local do delito, a fim de permitir a autoridade policial fotografar tudo que nele se ligasse a conduta do infrator. Talvez por ter sido a primeira vez que o fato ocorre à minha vista, me preocupando em documentar a cena, e, então,  entre o proprietário do veículo e o fotografo, predominou o último. Tudo bem, palmas para o meu complexo de repórter. De qualquer forma, não limpei o vidro, onde as bicadas da ave ocorreram, as marcas ainda presentes. De qualquer modo, quero ver o sabiá-de-praia me desmentir.

Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras