Diego da Costa
Recebi no meu WhatsApp o texto de Waldeck Ornélas, intitulado Os “donos” de partidos, o artigo traz uma análise crítica e provocativa sobre o funcionamento dos partidos políticos no Brasil. Essa abordagem permite traçar paralelos interessantes com os princípios de administração e gestão, revelando como a falta de práticas democráticas internas e de processos administrativos estruturados nos partidos compromete sua função essencial: representar a sociedade e buscar o interesse público.
Na administração de qualquer organização, sejam empresas, órgãos públicos ou entidades sociais, a transparência, a governança e a rotatividade de lideranças são pilares fundamentais para sua eficiência e legitimidade. No entanto, como bem destacado por Ornélas, muitos partidos políticos brasileiros funcionam como “feudos” dominados por figuras que se perpetuam no comando, desprovidas de mecanismos claros de renovação e controle.
Esse modelo de “gestão partidária” lembra estruturas organizacionais centralizadas e autoritárias, onde um pequeno grupo detém o poder e o utiliza para seus próprios interesses. A ausência de convenções partidárias regulares, por exemplo, reforça essa concentração de poder, similar ao que ocorreria em empresas sem assembleias ou auditorias internas: falta de prestação de contas, decisões unilaterais e descolamento dos objetivos institucionais.
Do ponto de vista da administração moderna, os partidos políticos deveriam adotar práticas de governança corporativa, com mecanismos que garantam a rotatividade de lideranças e a participação ativa de seus membros. Convenções partidárias regulares podem ser comparadas às reuniões de conselhos administrativos, fundamentais para a tomada de decisões estratégicas. Além disso, é essencial a adoção de processos de planejamento e avaliação que alinhem a atuação partidária às demandas sociais e aos objetivos políticos de longo prazo.
Outro ponto interessante levantado no texto é o financiamento público através do Fundo Partidário e do Fundo Eleitoral. Esses recursos, que deveriam ser utilizados para promover a transparência e a democracia interna, muitas vezes acabam alimentando estruturas de poder personalistas. A gestão eficiente desses fundos é um tema que deveria estar no centro do debate público. Assim como em uma empresa, o uso correto de recursos financeiros deve ser acompanhado por auditorias e relatórios de desempenho acessíveis a todos os envolvidos.
A cláusula de barreira, mencionada no artigo, é um avanço importante para reduzir o número de partidos e melhorar o cenário político. Entretanto, para que essa medida tenha impacto real, é preciso que os partidos adotem práticas administrativas que fortaleçam sua legitimidade e capacidade de representação. Uma administração eficiente começa pela definição de objetivos claros, pela transparência no uso de recursos e pela valorização do capital humano, representado aqui pelos filiados e lideranças de base.
A falta de interesse de partidos em disputar a Presidência da República, como pontuado por Ornélas, reflete uma visão administrativa distorcida. Em vez de buscar a liderança nacional, esses partidos optam por se manter nos bastidores, negociando posições estratégicas e recursos. Esse comportamento é o oposto do que se espera de uma organização orientada por sua missão, visão e valores, que, no caso dos partidos, deveria ser a busca pelo poder para promover o bem coletivo.
Por fim, a gestão dos partidos políticos no Brasil precisa de uma transformação urgente. A obrigatoriedade de convenções partidárias, acompanhada de regras de governança que incentivem a transparência e a renovação, qualificação e capacitação dos seus filiados é essencial para resgatar a credibilidade e a eficácia dessas instituições. Assim como na administração de empresas, os partidos devem ser vistos como organizações que exigem planejamento, controle, liderança e inovação para cumprir sua função na sociedade.
A reflexão é um convite para pensarmos em uma gestão partidária que priorize o interesse público, promovendo práticas administrativas modernas e alinhadas aos princípios democráticos. Afinal, não há gestão eficiente sem propósito, e não há política eficiente sem participação. O artigo escrito por Ornélas foi publicado no jornal Correio de Salvador (BA) no último dia 28 de novembro de 2024. Waldeck Ornélas foi Deputado Federal, Senador, Secretário de Planejamento, Ciência e Tecnologia da Bahia e Ministro da Previdência e Assistência Social (Governo FHC).