ARACAJU/SE, 18 de julho de 2025 , 2:09:14

Antonio Fernandes

No primeiro contato nosso, colocado na mesa minha condição de itabaianense, a colega revelou ter também nascida em Itabaiana, declinou nome do pai, da mãe, dos avós maternos, e, fazendo alusão aos parentes, disse ser prima de Antonio Fernandes, ora de Antonio Fernandes, meu padrinho de crisma, interrompi,  ora, ora, selamos amizade. O que me ficou acentuado foi a referência ao namoro que tiveram, num ah!, acompanhado de um sorriso tão intenso que dispensava comentários, no que me limitei a ficar calado.

Depois, me lembrei de Antonio Fernandes, com sua fobica, na Praça da Igreja, jogando o carro num oitizeiro em frente à casa de seu Zeca do vinagre, ou parando o veículo, a memória vacila, só para estar mais perto de Maria José, sentada na calçada, ao lado dos pais, costume, naqueles tempos, das tardes de domingo. Os namoros nasciam e se alimentavam de olhares. Estar perto da bem-amada recompensava o prejuízo sofrido pelo veículo. O amor em primeiro plano, amor que a vida abençoou e gerou futuro adentro seus frutos.

Antonio Fernandes era amigo de papai. Aconteceu de vê-lo sempre na loja, eu mais livre para ir sozinho de casa até lá, encontrando Antonio Fernandes, alegre, risonho, bonito, sempre alinhado, e, ademais, a me dar atenção. Bem, eu, menino, seis anos, e, então, então, quando fui alertado que o bispo ia a Itabaiana para a crisma, à época, um acontecimento, e, indagado se eu queria me crismar, e eu sim, quero, e, antes que algum aventureiro colocasse a mão na coroa, sentenciei: meu padrinho de crisma é Antonio Fernandes. E foi. Tenho comigo o certificado expedido pela Igreja. Data: 15 de janeiro de 1957. Nome do padrinho: Antonio Fernandes Santos. O que era ser crismado não sabia. A conquista era ter  Antonio Fernandes agora como meu padrinho. Por minha livre e espontânea escolha, tomada ainda com seis anos, da qual sempre ostentei como um troféu.

Na penúltima sexta-feira, a notícia de seu óbito. Noventa anos. Os depoimentos, aqui e ali, de homem de bem, que sempre foi, deixando seu nome como um legado de quem sempre trilhou o caminho da retidão, vieram à tona. Não há patrimônio que se iguale a tamanha e rara unanimidade. Antonio Fernandes Santos foi um exemplo de quem viveu em Itabaiana a vida quase inteira sem permitir que a divisão partidária lhe afetasse. De todos foi amigo, o sorriso sempre estampado no rosto. Fica o exemplo, a suavizar a perda que a morte causa, e o lugar vazio que os seus hão de sentir sempre, com absoluta razão e suave saudade.