Para conhecimento do futuro da medicina no Brasil, julgo relevante abordarmos a situação atual das escolas médicas do nosso país, a partir de dados do Conselho Federal de Medicina.
O Brasil tem 390 escolas médicas em 326 instituições de ensino superior, estas oferecem anualmente 43.501 vagas, sendo a maioria da rede privada (66%) e a rede pública que no passado era quem efetivamente oferecia educação médica no Brasil, detém no momento 34% das escolas médicas brasileiras.
Do ponto de vista das distribuição geográfica das escolas entre as unidades federativas, verifica-se que os cinco estados com maior quantidade de escolas médicas no Brasil são: São Paulo (74), Minas Gerais (48), Bahia (30), Rio de Janeiro (22) e Paraná (21), juntas elas representam 50% das escolas médicas do Brasil; do lado inverso, os cinco estados com menores quantidades de escolas médicas no Brasil são: Amapá (01), Roraima (02), Acre (03), Sergipe (04) e Alagoas (05), juntos eles ficam com 3,8% das escolas médicas do Brasil. Referidos dados demonstram forte concentração geográfica de onde estudar medicina em nosso país e isto certamente irá influenciar na futura distribuição geográfica de onde os futuros médicos irão trabalhar.
A expansão das escolas médicas no Brasil é decorrente de intenções de investimentos do setor privado neste segmento, os dados do Conselho Federal de Medicina apontam que em 1990, tínhamos apenas 78 escolas médicas no Brasil, equivalente a 20% do total de escolas médicas que temos hoje no país, neste mesmo ano, as escolas públicas representavam 60% das escolas médicas e o setor privado 40%, a equação mais que inverteu na atualidade, em face do forte crescimento da oferta de escolas médicas no setor privado.
Do ponto de vista histórico, enquanto as escolas privadas de medicina não conseguiam evoluir, não tínhamos evolução de escolas médicas em nosso país. De 1990 a 2000, portanto a última década de Século XX, a evolução foi de apenas mais 23 novas escolas médicas, chegando neste mesmo ano no equilíbrio quantitativo entre escolas médicas públicas e privadas (51 escolas médicas públicas e 50 escolas médicas privadas); e, 2003, tínhamos 61 escolas médicas públicas e 61 escolas médicas privadas; foi a partir do ano de 2004 que as escolas privadas médicas ultrapassaram as escolas públicas médicas, com 136 escolas, tínhamos 72 escolas médicas privadas e 64 escolas médicas públicas; no ano de 2010, eram 181 escolas médicas, sendo 106 privadas e 75 públicas; em 2020, o Brasil alcançou 354 escolas médicas, sendo 223 privadas e 131 escolas públicas; até os dados atuais que são 390 escolas de médicas, sendo 256 escolas privadas e 134 escola públicas.
Neste horizonte de 1990 até os dias atuais, ou seja, um intervalo de 34 anos, este salto quantitativo de escolas médicas no Brasil, foi por conta das escolas médicas privadas que apresentaram uma evolução de 725,8% no quantitativo, enquanto que as escolas públicas evoluíram em 185,1% no mesmo período.
A evolução do quantitativo de escolas médicas no Brasil é importante e relevante para entendimento do futuro da medicina e da saúde de nosso país, mas esta análise tem a necessidade do entendimento da evolução do número de vagas e a sua proporcionalidade entre o setor público e o setor privado.
Em 1996, as escolas médicas ofereciam 10.729 vagas para estudar medicina, sendo 5.609 (52,3%)nas escolas médicas públicas e 5.120 (47,7%), nas escolas médicas privadas; no ano em que a quantidade de escolas médicas públicas e privadas ficaram na mesma quantidade (61 cada) no ano de 2003, as vagas nas escolas médicas totalizavam 15.512 e a distribuição era a seguinte: 9.056 (58,4%) vagas nas escolas médicas privadas e 6.456 (41,6%) vagas nas escolas médicas públicas, ou seja, mesmo tendo a mesma quantidade de escolas médicas, o setor privado já absorvia em 2003, a maioria dos estudantes de medicina de nosso país.
Na atualidade a oferta é de 43.501 vagas, sendo 32.066 vagas nas escolas médicas privadas e 11.435 vagas nas escolas médicas públicas. A situação atual é que 73,7% das vagas de medicina no Brasil encontram-se nas escolas médicas privadas e 26,3% nas escolas médicas públicas.
Na questão geográfica de capital e interior, na base atual temos nas capitais: 104 escolas médicas (68% privadas e 40% públicas) em 103 instituições de ensino superior que ofertam 15.700 vagas (36,1%); enquanto que no interior temos: 286 escolas médicas (60% privadas e 32% públicas) em 251 instituições de ensino superior que ofertam 27.801 vagas (63,9% das vagas). Estes dados reforçam a importância da inserção do setor privado na oferta de escolas médicas e vagas em curso de medicina, pois foi o setor privado quem mais contribuiu para que o interior nos dias atuais tenha mais oferta de vagas para estudantes de medicina em nosso país.
Entendo que a valorização do desenvolvimento da educação médica no Brasil é fundamental e relevante, tanto o setor público como o privado são fundamentais e necessários, mas quebrar as amarras do preconceito com o setor privado no ensino de medicina é fundamental, pois o segmento além da contribuição na ampliação e interiorização das oferta de vagas em medicina, amplia a oferta de equipamentos médicos e oferece bolsas e auxílio para pessoas carentes cursarem um curso superior de medicina. Que o aprimoramento da educação médica no Brasil seja contínuo e possamos ter uma sociedade com mais médicos que certamente irão contribuir para uma população mais saudável e longeva.