A pronuncia do numeral quatro era problemática. Me enganchava no R e só saía cato, o que era suficiente para provocar gargalhadas em que ouvia. Eu caía sempre na reiterada cilada dos mais velhos, me lembrando depois da mangação quando da boca o cato era pronunciado. Um, dois, três, até aí ia bem. A casca de banana se alojava no quatro. Não me lembro quando, enfim, consegui ultrapassá-la, ensejando a extinção das armadilhas.
Não ficou só nisso. Convoco o substantivo fósforo. Demorei a aprender a usar o termo correto. Tudo por causa de um vizinho nosso, que fabricava artesanalmente fósforo, para vender na feira. Apelido: Firmino do fosco. De tanto ouvir o apelido, quando me bati com o nome correto foi um Deus nos acuda, a cabeça ditando a palavra correta e eu preso a corruptela. O mesmo ocorreu com sábado, que ouvi muito ser pronunciado com apenas duas sílabas: sabo. Espaço para arroz, sempre chamado de arrois, e cruz, quando a última letra se transforma em cruis. Ainda vigente. É só prestar a atenção, em todo lugar.
Depois, muito depois, quando cuidei dos apelidos de Itabaiana em livro, observei que alguns só tinham graça da forma como era pronunciado. Assim, Veinho e não Velhinho; Pai véio e não Pai velho, Incuído e não Encolhido, etc. Tudo me lembra um colega de magistratura assistindo uma partida de futebol ao lado de um cultor da última flor do Lácio, este pensando estar em sessão da Academia Brasileira de Letras, a corrigir a torcida que gritava um vai, porra, fio duma égua, faz o gol. E o cultor a reiterar que o correto seria avante! Avante! Ora, pois, diria eu.
Já que cheguei aqui, tateando nos parágrafos como caminhado de bêbado na madrugada dos dias, indago: a língua correta é a dos gramáticos ou a do povo? Se o leitor se engancha, respondeu eu: as duas. Uma, recheada de mais regras que os artigos do Código Civil; a outra, a livre e leve. Invoco um exemplo, no debate de vereadores, em Itabaiana, de muitas datas atrás. Um chamou o outro de perfídio, e este agradecendo. Findo o debate, indagou ao secretário da Câmara o que era perfídio. Resposta: falso, de duas palavras. A decepção veio no desabafo: taí, e eu pensando que era elogio. Bom, acho que me afastei do tema. Peço desculpas.