ARACAJU/SE, 24 de dezembro de 2025 , 12:18:40

Bebeta e a CNEC

A CNEC – Campanha Nacional de Escolas da Comunidade nasceu em Recife, em julho de 1943, pelas mãos de Felipe Tiago Gomes, então um jovem estudante, nascido na Paraíba, com a adesão de alguns dos seus colegas estudantes de variados cursos universitários. Da capital pernambucana, ganharia o Brasil, chegando a ter cerca de dois milhares de escolas, inicialmente ginásios.

A missão inicial de Felipe Tiago Gomes era espalhar o ensino dito secundário (ginasial) em um país carente desse tipo de ensino nos anos da ditadura do Estado Novo. Foi, sem dúvida, um feito memorável do jovem paraibano e de todos aqueles que aderiram ao movimento da Campanha do Ginasiano Pobre, como se chamou no início.

Quando já se chamava CNEG – Campanha Nacional de Educandários Gratuitos, nela eu ingressei, em 1967, como aluno da primeira série do curso ginasial, concluindo em 1970. Em 1977, já estudante do curso de Direito da Universidade Federal de Sergipe – UFS, voltei como professor e, no ano seguinte, aos 23 anos de idade, assumi a direção do Colégio Cenecista Regional Francisco Porto (antigo Ginásio Tertuliano Pereira de Azevedo, nomenclatura de quando fora fundado, em maio de 1959).

Ao assumir a direção do Colégio, convidei a professora Elisabete Soares Souza Santos para ser auxiliar de secretaria. Com ela, minha contemporânea no curso ginasial, eu já tinha trabalhado na Prefeitura Municipal de Nossa Senhora das Dores, nossa terra natal, de 1974 ao início de 1977.

Depois, Bebeta, como era conhecida, tornou-se a secretária da nossa escola. Ao deixar a direção, em novembro de 1997, após ingressar como professor efetivo do curso de Direito da UFS, eu indiquei Bebeta à então Superintendência Estadual da CNEC para substituir-me na direção. Fiquei dando suporte, até que ela engrenou, por assim dizer. Jamais, porém, afastei-me por completo, sempre dando orientações, quando solicitado.

De novembro de 1997 a dezembro de 2025, Bebeta exerceu com proficiência o cargo de diretora do nosso Colégio, falecendo na quinta-feira, dia 11 deste mês. E falecendo inesperadamente, embora já vinha adoentada há alguns dias. Vinte e oito anos como diretora. A mais longeva naquela direção.

A comunidade dorense sentiu-se como que traumatizada com o falecimento de Bebeta, que já era a mais antiga colaboradora da CNEC em todo o país. O povo dorense soube prestar-lhe a última homenagem, comparecendo um grande número de pessoas ao seu velório e sepultamento, após a missa de corpo presente que eu mesmo presidi, nas dependências do Colégio.

Fico a pensar o que uma instituição como a CNEC, ou outra qualquer, deve fazer diante de uma perda desse tipo? Mais de quarenta anos dedicados à instituição. A mais antiga a estar laborando. As pessoas passam e o seu nome ficará nos papeis oficiais da instituição, que ela assinou? Uma fotografia, numa galeria de ex-diretores, se houver, desbotando-se com o tempo? Somos insensíveis assim? Apenas substituímos as pessoas por outras, e seguimos em frente? Guardamos a sua história e a sua memória em nossos corações, em nossas mentes?

Bebeta, com o seu corpo miúdo, com os seus “gritos”, sempre dizendo em reuniões “Bebeta quer falar”, era querida. Uma pessoa querida, que fazia bem o seu trabalho, não pode passar em vão.

Vou propor à Diretoria Geral da CNEC, na próxima reunião, colocar o nome de Bebeta na Ala Administrativa do nosso Colégio. É o mínimo que se poderá fazer em honra à sua memória, à sua missão tão bem executada. Quem ajuda a CNEC a manter-se viva, não pode, simplesmente, passar em vão.