Começo com as apresentações. O primeiro, Bob, um cão pequinês, irritadiço, ou um tanto bipolar, excelente mordedor, sem consideração a ninguém. O segundo, Pretinho, um gato angorá, que fazia dupla com Bolinha, – que não teve participação alguma no caso aqui focado -, acrescentando que os dois, Bob e Pretinho, viviam pacificamente, embora não se cumprimentassem, nenhum se arriscando a comer na tijela do outro. O terceiro, um rato, de nome e origem desconhecidos, até então sem dar a conhecer aos habitantes da casa que fizera da dispensa a sua morada, felizmente, provisória. 7
Mamãe, desconfiada de que havia algo estranho na dispensa, encarou de frente o problema e lá foi mexer em tudo que lá estava, até que o rato se deu por incomodado e bateu em retirada. Deu azar. Em lugar de descer em direção ao norte, onde encontraria espaço para atingir o quintal, podendo se esconder sem dificuldade, optou por demandar pelo leste, um pátio bem cimentado, o chão liso, despertando a atenção de Bob, que, senhor da casa como todo cão que se preza, não vacilou e iniciou perseguição ao minúsculo e estranho ser que invadia seu território. 13
Pena não ter filmado a apoteótica fuga/perseguição. O rato na frente, sem espaço e tempo para escapar de Bob, Pretinho, quieto, numa posição que fechava qualquer rota de fuga do rato para o canteiro, Bob e o rato escorregando no pátio, Pretinho apreciando o corre-corre dos dois, escorrega e se levanta, se levanta e corre, eu, perto da dispensa calado, só testemunhando, sem me meter no fato – não me cabia tomar partido por Bob, que, afinal, deve ter sido a primeira vez que via um rato, nem pelo desconhecido rato, que não conhecia -, até que Pretinho se impacientou, saiu do local onde se encontrava, se metendo entre os dois e, acreditem, com uma patada no pescoço do rato, acabou com a fuga e com a caçada. Morte instantânea do rato. 21
Pretinho voltou ao local onde se encontrava. O rato, estirado no chão, era um minúsculo cadáver a ser jogado na lata de lixo, sem merecer sepultura no quintal. E Bob? Ficou parado, o olhar mostrando espanto, como a não acreditar no que via. Não se dignou dar parabéns a Pretinho. Depois de alguma meditação, deitou-se em frente da dispensa. Dali poderia sair outro rato.
