José Anselmo Oliveira
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou em novembro de 2025 a primeira vacina brasileira contra a dengue, produzida pelo Instituto Butantan. O imunizante, batizado de Butantan-DV, é também o primeiro no mundo a oferecer proteção em dose única, o que deve facilitar a logística de vacinação em larga escala.
Segundo dados apresentados pelo Butantan e validados pela Anvisa, a vacina demonstrou 74,7% de eficácia geral, 91,6% contra casos graves e 100% na prevenção de hospitalizações. Os resultados foram publicados em revistas científicas internacionais como New England Journal of Medicine e The Lancet Infectious Diseases. Os efeitos adversos relatados foram leves, como dor no local da aplicação e fadiga, e os estudos mostraram que a proteção se mantém por mais de cinco anos.
O desenvolvimento da vacina envolveu mais de 16 mil voluntários em 14 estados brasileiros, incluindo ampla colaboração de universidades do Nordeste. Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC), da Universidade Federal da Bahia (UFBA), da Universidade Federal de Sergipe e da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) participaram dos ensaios clínicos, conduzindo parte dos testes em centros de pesquisa locais. Essa presença foi estratégica, já que a região Nordeste concentra altos índices da doença e ofereceu condições ideais para avaliar a eficácia do imunizante em diferentes cenários epidemiológicos.
De acordo com o Diário do Nordeste, o Ceará foi um dos estados que mais contribuiu para os estudos, com voluntários acompanhados em hospitais universitários e centros de referência em infectologia. A UFBA também destacou a importância de integrar pesquisadores locais em um projeto de alcance nacional, reforçando o papel das universidades nordestinas na produção científica aplicada à saúde pública.
O Instituto Butantan já produziu 1 milhão de doses e firmou parceria com a empresa chinesa WuXi para ampliar a capacidade de fabricação, com previsão de entregar 30 milhões de doses até o segundo semestre de 2026. O Ministério da Saúde confirmou que a vacina será incorporada ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) e distribuída gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Inicialmente, a aplicação será destinada a pessoas entre 12 e 59 anos, mas estudos adicionais já estão em andamento para incluir idosos de 60 a 79 anos e crianças de 2 a 11 anos. A expectativa é que, com a ampliação das faixas etárias, o imunizante se torne uma ferramenta decisiva no combate à dengue em todo o país.
A aprovação ocorre em meio a números alarmantes: o Brasil registrou 6,5 milhões de casos prováveis em 2024 e 1,6 milhão em 2025 até novembro. A dengue é considerada uma das maiores preocupações de saúde pública, especialmente em estados nordestinos como Ceará e Bahia, onde surtos recorrentes pressionam o sistema de saúde.
Para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, a vacina representa “um marco inédito na saúde pública brasileira” e reforça a autonomia tecnológica do país. Já o diretor do Butantan, Esper Kallás, classificou a aprovação como “um feito histórico” que coloca o Brasil na liderança mundial no enfrentamento da dengue.
Com a participação decisiva das universidades nordestinas, a aprovação da Butantan-DV não apenas fortalece a ciência nacional, mas também simboliza um avanço estratégico para reduzir os impactos da dengue em regiões historicamente mais vulneráveis.