Não estou tendo sorte em supermercado. Não faz muitas luas que, ao me aproximar do caixa sem fila, me deparei com uma simpática senhora na mesma direção, só dois ou três objetos das mãos. Eu poderia ter me apressado e chegado na frente, mas, por cavalheirismo, deixei-a alcançar primeiro o caixa. A rapidez que imaginava não deu certo. A freguesa – alta, cabelos grandes e imensamente pretos, rosto redondo e graúdo, vestido que batia nos pés – começou a indagar a caixa acerca da marca de modess que ela aconselharia a usar entre os dois pacotes que exibia. Eu, para meus botões, a imaginar uma mulher naquela idade ainda sem ter uma marca certa de modess. O diálogo das duas consumiu alguns minutos do meu valioso tempo.
Esta semana foi pior. No caixa reservado aos idosos, mulheres gestantes ou com criança de colo, uma senhora e sua silenciosa filha, a falar alto [a mãe] para obter uma redução do preço, precisava que o cartão de crédito estivesse atualizado. O dela não estava, a caixa lhe ditava números, a mulher os digitava no celular, a voz bem alta que ao redor todos prestavam atenção, e eu já com a parte de compras retiradas do carrinho, esperando ela ser liberada a fim de me abrir espaço, o tempo movimentando-se, até que ela se irritou, deu um murro na parte da caixa a derrubar um grampeador na mesa, e virando-se para mim, que, acompanhando a maratona, permanecia quieto e calado, e, sem mais, nem menos, me tratando por moço, me mandou escolher outro caixa, porque ela só sairia dali quando pudesse pagar, jogando palavras de merda para todos os lados. Uma das gerentes ambulantes, a circular como beija-flor, com a cara amarrada, mexeu para um lado e para outro, resolvendo o problema, a mulher saindo, a filha, refrigerante aberto na mão, se limitava a olhar para mãe. Foi a primeira vez em supermercado que recebi uma ordem de outro freguês, sem fazer qualquer objeção.
Mudei, com carrinho e tudo, para outro caixa. Fui atendido, ouvindo este, que viu a cena, revelar que a freguesa é presença constante, a filha sempre de boca fechada, a mãe se destaca pela altura da voz. Entonce, me lembrei de que em briga de branco, índio não se mete, mas testemunha e registra, como faço agora, afinal, paga-se caro, mas se diverte com o inusitado de algumas cenas.
Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras