ARACAJU/SE, 2 de dezembro de 2024 , 7:00:16

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CNC faz bem ao Brasil ao entrar com Adin contra “bets”

 

Quando o tema é palpitante, cabe ao profissional do jornalismo estender o assunto, escrevendo suítes sobre os assuntos em voga para que o leitor/consumidor da mensagem compreenda melhor os acontecimentos. Quando se trata de defender os interesses econômicos das famílias, em meu mundo particular, o jornalista se junta ao economista e busca combater o que é ilegal ou o que pode levar as pessoas à ruína. Assim, eu, enquanto economista, penso. Emito posicionamentos contra as associações pró-construção, associações de proteção veicular, empresas ilegais de segurança privada, comércio de produtos contrabandeados e não poderia ser diferente no caso dos jogos ilegais e sites de apostas, ou os famosos “bets”. Hoje você, amigo leitor, verá um “spin-off” do tema abordado na semana passada: essas porcarias de jogos ilegais.

O meu papel, enquanto economista focado na defesa dos consumidores é de trabalhar para garantir a justiça financeira e proteger os direitos dos cidadãos, especialmente os mais vulneráveis. A todo o tempo fico analisando políticas econômicas, regulamentações e práticas de mercado, identificando riscos que possam comprometer a saúde financeira das famílias. E esse trabalho inclui a orientação para as pessoas não caírem em práticas predatórias, como as que ocorrem nos jogos de azar e apostas online, tentando promover a educação financeira e defendendo os interesses dos consumidores diante de abusos econômicos.

A Confederação Nacional do Comércio (CNC) entrou nesta semana com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) no Supremo Tribunal Federal contra os cassinos online e os sites de apostas, mostrando que os brasileiros gastaram R$ 68 bilhões entre 2023 e 2024 em apostas. O valor é de 22% da renda familiar no período estudado, com a inclusão de mais de 1.3 milhão de pessoas na condição de superendividamento. O ato da CNC não é apenas uma questão institucional, é uma batalha pela preservação da dignidade e do futuro financeiro de milhares de famílias brasileiras. As apostas, em especial as plataformas de “bets”, têm se disseminado como uma verdadeira epidemia, levando à ruína pessoas de baixa renda, que já enfrentam dificuldades para sustentar suas famílias. A promessa enganosa de uma vida de riqueza fácil, propagada por esses sites, acaba por transformar sonhos em pesadelos financeiros.

Os jogos de azar exploram a vulnerabilidade das pessoas, especialmente as mais pobres. Estes indivíduos, muitas vezes sem acesso à educação financeira adequada, acabam entrando em um ciclo perigoso de dependência, onde a ilusão de ganhos rápidos os faz apostar o pouco que possuem. Como resultado, vemos uma escalada no número de endividados, famílias destruídas, e um impacto emocional que muitas vezes culmina em tragédias, como suicídios.

O posicionamento da CNC, ao recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para pedir o fim dos cassinos online, é uma iniciativa necessária e louvável, que deveria ser apoiada pelas instituições que têm como finalidade a boa fluidez do mercado. Precisamos dar um basta nessa prática que transforma a vulnerabilidade das pessoas em lucro para poucos, enquanto a grande maioria mergulha em dívidas impagáveis e desespero. A iniciativa da CNC vai além da defesa dos interesses do comércio, ela representa a defesa da saúde financeira e emocional dos brasileiros.

A ilusão vendida pelos sites de apostas é devastadora. O apelo emocional e a facilidade de acesso fazem com que essas plataformas pareçam inofensivas, quase como se fossem uma simples diversão. No entanto, a realidade é que esses cassinos online estão criando uma geração de endividados crônicos, onde o ciclo vicioso de perder e apostar mais se torna incontrolável. Os sites de apostas, com sua estratégia agressiva de marketing, penetram em todos os aspectos da vida moderna, promovendo um comportamento que coloca em risco a integridade financeira das famílias, especialmente aquelas que já vivem no limite da pobreza.

As “bets” são um fenômeno preocupante que está crescendo de forma alarmante. O problema é que, diferentemente de outros jogos de azar, elas parecem legitimadas por patrocinadores de grandes eventos esportivos e figuras públicas. Isso cria uma falsa sensação de que essas apostas são inofensivas ou, pior ainda, uma oportunidade de enriquecimento rápido. Para muitas famílias pobres, as apostas surgem como uma “saída” para os problemas financeiros, quando na verdade são a entrada para um buraco ainda mais profundo.

É preciso ser claro: esses sites de apostas não apenas causam prejuízos financeiros, mas também destroem a estabilidade emocional e psicológica dos indivíduos. A sensação de fracasso após perder seguidas vezes, o desespero por não conseguir honrar dívidas e a culpa por colocar a família em risco levam muitas pessoas à depressão, ansiedade e, em casos mais extremos, ao suicídio. Esses sites exploram o que há de mais frágil nas pessoas, transformando a esperança em desespero e a diversão em destruição.

Ao apoiar a CNC nessa luta, posicionamo-nos contra a exploração de indivíduos vulneráveis por meio do jogo ilegal e dos cassinos online. O impacto dessa atividade é devastador, principalmente nas camadas mais pobres da população. Não podemos continuar permitindo que esses sites continuem operando sem controle, colocando em risco a vida financeira e emocional de milhares de brasileiros.

É inegável que o Brasil precisa urgentemente de uma regulamentação robusta para o setor de apostas e jogos de azar. A ausência de uma legislação clara e de mecanismos de controle permite que operadores inescrupulosos explorem a população sem qualquer consequência. A regulamentação não deve apenas visar a arrecadação de impostos, mas, principalmente, a criação de mecanismos que protejam os jogadores compulsivos e limitem o acesso descontrolado a essas plataformas.

A regulamentação deve incluir medidas como limites de apostas, bloqueios automáticos para jogadores que ultrapassem certos valores e, principalmente, ferramentas para o acompanhamento de comportamentos compulsivos. Devemos criar um ambiente onde o jogo seja tratado como uma questão de saúde pública, e não apenas como uma forma de entretenimento ou uma atividade econômica.

Precisamos também de campanhas educativas que alertem a população sobre os perigos das apostas, desmistificando a ideia de que é possível enriquecer rapidamente por meio do jogo. A CNC está correta ao defender que a regulamentação dos jogos deve ser acompanhada de um forte trabalho de conscientização, para que as pessoas compreendam os riscos e saibam que o caminho para a estabilidade financeira não passa pelo acaso ou pela sorte, mas pelo planejamento e pela educação financeira.

hora de agir, de regulamentar e de proteger os brasileiros dessa verdadeira epidemia financeira. A CNC está do lado certo da história, defendendo não apenas os interesses do comércio, mas, sobretudo, o bem-estar da sociedade como um todo.