Por Marlos Cesar Bomfim Cabral*
Comumente chamados de vapers ou pods, os cigarros eletrônicos são dispositivos mundialmente utilizados, principalmente por jovens, por possuírem características atrativas e cheiro agradável. Assim, tornam-se ameaças camufladas, com perigos que vão desde prejuízos aos pulmões até o comprometimento do sistema cardiovascular, além de trazer também riscos à saúde bucal.
Segundo uma pesquisa do IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), entre 2018 e 2022, o número de pessoas que usavam o cigarro eletrônico quadruplicou no Brasil, saindo de 500 mil para 2,2 milhões de usuários.
Uma das principais preocupações dos profissionais da Odontologia em relação ao uso desses dispositivos é a presença de substâncias químicas presentes nos líquidos utilizados nos vapers/pods. Embora esses líquidos frequentemente não contenham tabaco, muitos contêm nicotina, além de outros compostos químicos que podem ter efeitos adversos na saúde bucal. A nicotina, por exemplo, é conhecida por causar vasoconstrição, o que pode comprometer o fluxo sanguíneo nas gengivas, aumentando o risco de doença periodontal.
Além disso, a inalação constante de vapor quente pode levar à desidratação da mucosa oral, ressecando suas áreas e contribuindo para a irritação das vias aéreas superiores. A boca seca não apenas promove o crescimento de bactérias, mas também pode aumentar o risco de cárie dentária e outros problemas bucais. A exposição contínua aos produtos químicos presentes nos cigarros eletrônicos também pode gerar impactos à saúde geral, em médio e longo prazo, aumentando o risco de desenvolvimento de condições mais graves, como câncer oral e outras doenças crônicas.
Portanto, é imprescindível que os profissionais da Odontologia conheçam os perigos e potenciais impactos do uso de vapers ou pods, para transmitir as orientações adequadas aos pacientes que utilizam cigarros eletrônicos. Dessa forma, cirurgiões-dentistas e profissionais auxiliares devem incentivar a manutenção de uma boa higiene bucal, a realizar exames periódicos e sensibilizar sobre os riscos associados ao uso desses dispositivos, visando à preservação da saúde bucal dos pacientes que optam por essa forma de consumo de nicotina.
*É Cirurgião-Dentista (CRO-SE 1211), especialista em Saúde Coletiva e Saúde da Família, conselheiro presidente da Comissão de Políticas Públicas de Saúde do CRO-SE.
CRO-SE Itinerante
Na última terça-feira, 10, o CRO-SE Itinerante esteve em Areia Branca, reunindo profissionais do município e também de Itabaiana, Laranjeiras e Maruim, em uma importante palestra sobre o tema da Biossegurança na Odontologia, ministrada pelo Dr. Hélio Igor Albuquerque. Participaram do encontro, voltado à capacitação e atualização científica de profissionais que atuam na região, a presidente Anna Tereza Lima, a conselheira presidente da Comissão de Municípios, Heloísa Nunes Gois, e a coordenadora de Saúde Bucal de Areia Branca, Meyriane Andrade Lima Pagano.
Combate à desinformação
No último domingo, 08, uma matéria de conteúdo impreciso e sem respaldo científico foi veiculada no Jornal O Globo, ocupando o debate nas redes sociais. O Conselho Federal de Odontologia entrou em contato com o veículo de comunicação, que iniciou a produção de conteúdo validado sobre o flúor e comprometeu-se a publicar. O CFO e os Conselhos Regionais, por sua vez, seguem divulgando informações cientificamente comprovadas sobre a saúde bucal, como o uso do flúor, raspadores, enxaguantes bucais, escovação eficaz e a prevenção de cáries.
Segurança e origem do flúor
O flúor é um mineral natural encontrado em rochas, água e solo, amplamente utilizado na odontologia por sua comprovada eficácia na prevenção da cárie. Seu uso tem respaldo de todas as entidades científicas nacionais, do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS), que recomendam a aplicação controlada para fortalecer o esmalte dental e reduzir a incidência de cárie. Ao contrário dos boatos, o flúor não tem origem no petróleo, sendo extraído de minerais naturais como a fluorita.
Cárie: uma disbiose bacteriana
A cárie é uma doença biofilme-açúcar dependente. A relação entre o consumo de açúcares e a cárie é direta. As alterações hormonais e a xerostomia (boca seca) podem contribuir para a maior suscetibilidade à cárie, mas não são os fatores principais. A cárie é uma disbiose (desequilíbrio da microbiota oral causado pela presença de açúcar) do biofilme bucal que, sem controle do consumo de açúcares e sem higiene bucal adequada, leva à desmineralização dos dentes.