Na feirinha natalina, tínhamos onda, trivoli, balanço e barca [imitação do barco], esta com característica ímpar: não era um meio exclusivo de diversão, mas, o único instrumento que quem a ocupava fazia força física. Em verdade, antecedia, com décadas e décadas, os equipamentos das academias. Sim. Explico. A barca era ocupada por duas pessoas, de lados opostos, ambas puxando uma corda, uma de cada vez, a que subia, a que descia. E assim, do subir e do descer, a barca ia ganhando altura, alteando a cada lance, sobretudo as grandes, reservada aos adultos, chegando a bater nas folhas dos pés de figo próximos, fazendo aquele barulho que despertava a atenção de todos. Em resumo, era do braço de cada um dos ocupantes que a barca se mantinha em pé, não deixando de ser uma forma rudimentar de exercício físico que as academias [futuras] não puderam adotar, pela inconveniência que o tamanho estampava.
Em Itabaiana, a feirinha na Praça da Santa Cruz, primeira parte, as barcas se localizavam na frente do cinema do padre. Em número de quatro, quero crer, se penduravam na viga central, barcas grandes de um lado, pequenas, de outra, propriedades de duas empresas, com cores diferentes, para diferenciá-las, porque cada uma tinha seu dono. Até aí se estabelecia a diferença da barca porque não era um só, mas várias, todas independentemente das demais. Depois, não se estabelecia um tempo exato para as corridas, ficando a critério do encarregado colocar a dupla na barca e receber o pagamento. Quando considerava o tempo suficiente, o encarregado começava a subir uma tábua, que servia de freio, para, aos poucos, baixar a velocidade, até poder parar por completo. Era uma dupla saindo e outra entrando, nos momentos de grande enchente da feirinha.
As barcas não agitavam minha vontade. Gostava de vê-las subindo e batendo nas folhas dos pés de figo. Nas grandes, por exemplo, nunca andei. Nas pequenas, só ficou a lembrança de uma vez, de triste memória, na regurgitada que cometi depois de encerrado o tempo. Já contei alhures. Ficou só o olhar de curiosidade e admiração para os que, como Ícaro, queriam tocar no céu. Os quatro ferros, que a seguravam, gemiam e se retorciam, a barca sacolejava para os dois lados, sem nunca ter sido registrado qualquer acidente. Viva a engenharia dos homens daqueles tempos!
Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras