Ao abrir os olhos, lá para as cinco e pouco da manhã, a impressão tida foi de estar chovendo. O céu parecia nublado. A curiosidade, dividida com a ansiedade, as duas atadas me fizeram levantar, de logo, para verificar. Doce engano. O vidro estava embaçado pela maresia. Presente a decepção, nos últimos dias, de ver, ao redor, de um lado e de outro, o céu escuro, a ameaça de chuva, seguida, depois, instantaneamente, pelo azul total em todas as latitudes, as nuvens que desapareceram, arrastadas, talvez, para o interior, e a chuva, bem, a chuva, fica para outro dia, ou outra hora, no momento, por conveniência de São Pedro, a torneira não será aberta. De hoje, não posso me queixar. Eu é que me ilusionei. Talvez em cima da hora, São Pedro tenha preferido jogar a chuva em outro lugar que necessitasse mais do que aqui. Nos projetos de São Pedro, não me meto.
Esconder, não posso, a vontade de ver a chuva caindo, a água escorrendo pelas telhas, a bica captando alguma quantidade, para despejar no chão, que se encharca, a pressa de retirar as cadeiras e as redes das varandas. Em Teresina, onde morei, vi um colega, uma ou duas vezes, ante a raridade da chuva, deitar na rede da varanda de sua casa para melhor apreciá-la, afinal em nove meses ali morando, só em duas ocasiões a chuva caiu, não me lembrando mais se foi chuva da pesada – não, da pesada não foi -, foi chuva suave, simples orvalhar da terra, a água não descendo nem dois centímetros terra a dentro. Me aquieto. São Pedro, que mexe com chuva desde que o céu é céu, sabe a dosagem certo para cada lugar. Não depende de pedidos, nem se queda a rezas, senão ia ser uma calamidade, uns pedindo chuvas e outros não. Como contentar todos ao mesmo tempo? Daí o rezar não interferir nas decisões de São Pedro.
Não vi mais durante o dia qualquer sinal de chuva próxima, nem me dei ao trabalho de estar a olhar para cima, na busca de sinal que evidenciasse a sua proximidade. À tarde, o sol ainda forte, fitei o céu. Bem em cima, o azul bem azul, embaixo, as nuvens – brancas, finas e espaçadas -, como se tivessem sido espalhadas por pincel gigante, na confecção de quadro surrealista, digno de ser captado por foto. Talvez, nas horas vagas, quem sabe lá, São Pedro se dê ao luxo de pintar o céu, aqui e ali, para deleite dos que costumam fitar o firmamento. Não duvido.