ARACAJU/SE, 7 de setembro de 2024 , 20:43:51

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De festas e de festas

A Praça da Santa Cruz dividia o retângulo. Na primeira parte, a feirinha superlotada,  festa de ano novo, a população dobrava o número no Natal, eu e Bosco, ambos segurando a mão de papai, nos embrenhávamos com dificuldade no meio da multidão, quando um rapaz pediu as festas a papai. A resposta veio em forma de pergunta: Mais festas do que essa? Não abriu o bolso para oferenda alguma, dando um passo à frente. Explico: festas era o termo usado como sinônimo de dinheiro, para o que recebia gastar em alguma coisa. Era usual o pedir, não sendo assim nenhuma novidade. O costume devia vir de velhas datas.

Muito já me deparei com o termo agrado, que simbolizava também o dinheiro, usado até por Machado de Assis, sem ter um tempo próprio para vir à tona, diferentemente de festas que só se conectam com os festejos de fim de ano, Natal e Ano Novo, reduzida sua abrangência, os festejos natalinos a lhe dar vida e os mais generosos se valendo do bolso para espalhar festas, além daquelas que atraiam tanta gente e movimentavam a urbe e a Praça da Santa Cruz.

Se na feirinha precedia de pedido, no seio familiar, ao contrário, era o mais velho que abria o bolso para tanto, e, eu muito vi Iana, na noite da véspera de Natal, a dar abençoa a seu Olívio Breu, – abençoa, vô Olívio -, que metia a mão no bolso, escolhia uma cédula, repetindo a cantilena de sempre, tome, minha filha, para suas festas. Aliás, a festa era para os netos, os avós reservando cédulas para os netos, um por um, indo a feirinha de bolso cheio, trivoli, barco, onda,  balanço, pipoca, todos de roupa nova, em Natal uma, em Ano Novo outra, e em Reis, a de Natal, festa por festa, ano a ano, tudo se repetindo da mesma forma, a praça sem calçamento, a poeira deixando marca nos sapatos, o importante era estar ali na festa e com o bolso cheio de … festa.

Para não dizer que não falei de flores, encontro em Câmara Cascudo o Natal como época de dar e receber festas, de pedir festas, e, na última, se aproxima do que vivi em Itabaiana, costume que reclama um dicionário de minha infância, de termos e costumes que, quiçá, hoje, não mais escapem da sepultura, a fim de que não se percam nas esquinas dos anos, não para trazer o pedir festas de volta, mas, para o termo não morrer da pior morte do mundo que é a do esquecimento.