Vladimir Souza Carvalho (*)
A atendente carrega o nome de Ranielli, com dois ll. Está bem estampado no crachá. Pergunto-lhe se foi ideia do pai ou da mãe. Da mãe. Origem francesa, arrisco. Quase o nome do deputado federal que assumiu por alguns instantes a Presidência da República na queda de Jango. Ela não sabe quem foi Pascoal Raniere Mazzilli nem João Goulart. Não dá sinal de desagrado com o nome. Acrescento que é melhor Ranielli do que Perpedigna ou Porciuncula. Ela ri. Vem à tona, no aniversário de meu neto, da conversa que tive com uma convidada, de seis a sete anos, se ela queria trocar o nome para Maria Francisca, recebendo de cortesia uma boneca. Boneca grande, que fala e ri, gesticula os braços e caminha. Ela se torna pensativa. Acredito que vai aceitar, mas alevanta uma dúvida: e as pessoas que já a conhecem como Eduarda, como vão chama-la doravante? A conversa se encerra porque é chegada a hora de cantar os parabéns.
Interessantes certos nomes. Um, que me chamou a atenção e eu, para não esquecê-lo, anotei: Benedito Sacramento dos Santos. Deveria ser padre, porque chegaria a bispo e de bispo a cardeal com facilidade, e, quem sabe lá, igualmente a papa, pela raridade de se encontrar uma pessoa com nome e sobrenome tão encharcados de religiosidade, Benedito que é Bento, Sacramento que cheira a missa, a algo sagrado, e Santos a dispensar explicação, porque não é só um santo, mas santos e santas de todos os tempos, pela fartura, que no céu vai exigir um anexo. Anoto o nome de um colega do curso de Direito: José Bispo dos Santos. Numa classe que tinha dois sacerdotes, o único Bispo não era padre, nem chegou a ser arcebispo, morrendo como mero Bispo.
Em Teresina, quando por lá passei, encontrei muita gente com o nome de Jesus. O Diretor de Secretaria da minha vara era Jesus. Nunca vi em nenhum outro Estado, e olhe que já trabalhei em Maceió e, atualmente, no Recife, ninguém com o nome de Jesus. Não é que não tenha. Eu é que não vi. É bem diferente. Aqui, Jesus é apelido de família, sobrenome que alguns não transmitem aos filhos, apesar de serem católicos, sendo de se invocar um, que não passou o sobrenome Jesus para a esposa e filhos, e a esposa, que, com o casamento, aproveitou o ensejo para cortar o Santos de seu nome. Tiveram sorte porque a Inquisição é página virada da história. Senão a cobra chiava.
(*) Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras