ARACAJU/SE, 24 de outubro de 2025 , 20:27:24

De pássaros e de piscinas

Vladimir Souza Carvalho

 

A chuva, aproveitando-se de uma entrância no asfalto da rua, transformou-a em piscina, assim usada por um casal de bem-te-vi, que, acredito, habita um ninho no poste de iluminação elétrica que fica no fundo do edifício onde moro. O capim seco, estirado, lá no alto, denuncia o ninho. Consigo vê-lo, prova do domicílio ali do casal, sem se falar na presença de um cadáver de passarinho bem novo, sem pena ainda, na calçada, já faz algum tempo, que do ninho escapou. Volto à piscina e ao banho que o casal de bem-te-vi tomava, ambos bicando a água e jogando-a nas asas, a se abrir na forma de um minúsculo leque. Alegria pura se o bem-te-vi soubesse rir.

Foi aí que cheguei dirigindo, velocidade mínima, o portão de entrada a poucos metros. Tive de parar o veículo, porque o jovem casal não se deu ao trabalho de sair da frente, continuando o frescante banho, no que, com muito cuidado, fui avançando, avançando,  observando depois não ter atingindo nenhum dos dois pássaros, que devem ter voado sem eu perceber.

Outro dia, do outro lado da rua, aproveitando a sombra, enquanto esperava veículo para a aula de música, o que vi me chamou a atenção: uma lavandeira, hoje um tanto rara, andava de um lado para outro, indignada porque um veículo ali estacionado deixou o pneu justamente no meio de outra piscina. E a lavandeira procurava espaço para mergulhar e não encontrava, pulando de um lado para outro, sem se incomodar com minha presença bem perto, eu, o olhar fixo no seu movimentar, sem poder lhe explicar que, naquele momento, com o pneu do carro no meio da poça de água, o seu banho não se tornava factível. Não consegui me comunicar. Quando meu táxi chegou, a lavandeira ainda não tinha arredado os pés.

Depois, matutando as duas cenas, em poucos dias, a conclusão que tive é da necessidade de se colocar em todas as ruas pequenas e estratégicas piscinas para deleite dos pássaros mais exigentes, sobretudo a fim de que, nos dias em que o calor exibir às caras, servir-lhes de refrigério, levando em conta o enorme número de aves que enchem as ruas. É um modo bem prático de transformá-las em viveiros ao céu aberto. É pensar no futuro, as piscinas servindo de atração para os que estão no campo debandar em direção à cidade.

Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras