ARACAJU/SE, 9 de maio de 2025 , 6:57:54

De sonhos e de mangas

De sonho, entendo. Dos acordados e dos dormidos. De ambos, tenho até diploma de doutorado de várias universidades dos tempos da idade média. Dispenso o leitor das enumerações que poderia fazer e não o faço, para não cansá-los, afinal a temática não é de exibição de títulos, mas de sonhos que me perseguem vida afora, muitos ficando para trás, como o de fazer prova na Faculdade de Direito sem saber qual a matéria e desta os pontos, ou sem portar caneta alguma, sonhos que, um dia, me libertei, quando resolvi engrossar com o Senhor dos Sonhos, explodindo de indignação: porque sonhar com provas na faculdade, se já tinha anos e anos de formado? Os sonhos a propósito, viram que eu não estava para brincadeira, e se escafederam.

Os de agora, que vou juntando quando dão às caras, não se relacionam mais às provas, – não manifeste indignação ainda o leitor -, se prendem a um sítio, onde as mangueiras abundam,  todas carregadas de manga, e, eu, no meio delas, a procura de uma, sem conseguir derrubá-la. Fico de cara para cima, a percorrer os espaços, as mangas pululando nos galhos, nenhuma caindo na minha mão, mangas de todas as marcas, até manga-lima, manga-coco, e, independentemente do trabalho que tenho, de mangueira em mangueira, ainda não tive o prazer de mastigar uma só que seja, para remédio, a faca afiada a minha disposição, e, eu, o olhar pidão pairando sobre as mangas, o tempo do sonho se esgotando, de barriga vazia, sultão frustrado de harém superlotado, dormindo sozinho sem a quentura de uma ninfeta.

Chega! Não quero mais sonhar com manga. Encerro minha carreira com o último sonho, no qual, numa praça, vejo uma mangueira, superlotada de mangas, ser transportada na carroceira de um caminhão, as mangas balançando que nem rumbeira de circo. Vou ao Judiciário buscar a proteção de uma sentença, que, no momento em que o sonho começar a mostrar suas unhas, eu a coloco como escudo, e, mando o sonho chatear a mãe ou a avó, menos eu, que pago o imposto predial no tempo certo e não questiono qualquer aumento. Acabou-se, então. A manga que eu levar para minha casa será somente a da feira. O olhar não vai se prender em mangueira mais pelas estradas. O receio imenso de uma recaída… Será que cumpro mesmo?