Me encontro em meio a estantes na biblioteca do padre, a procura de um romance, sem conseguir nenhum sucesso. Reina total e absoluta escuridão. Nada vejo. Estou em pleno sonho, que, muitos e muitos anos depois de encerrado o curso ginasial, quando passei a chave de bibliotecário, com a concordância do padre, para um amigo, começou a surgir, repetindo e me incomodando, a angústia de estar numa biblioteca, que eu conhecia de ponta a ponta, sem ver os livros e sem conseguir encontrar o romance procurado ou outro qualquer. Sonho danado de chato! Nunca mais, me apareceu, talvez por ter o fato ficado lá atrás, ou porque deixei escapulir em conversas, e o sonho, incomodado com a divulgação, desapareceu do cardápio de minhas noites.
Depois, muito depois, outro sonho irrompeu. Sonho, não, autêntico pesadelo, no duro, como o anterior. Agora sou estudante de Direito. Tenho teste, sem saber qual a matéria. Ou então, sem ter caneta alguma. Ainda, a cabeça vazia de qualquer conhecimento. Sentado na sala de aula, o papel em branco na minha frente, sem responder a nenhuma pergunta. Agonia pura, a pensar como posso ter esquecido de estudar, ainda que não profundamente, como justificar minha ida a aula sem levar nenhuma caneta, situações em que, em todas elas, a minha atitude cheira a total irresponsabilidade, que não se casa com meu perfil. Não me perdoo. Quando me acordo, me considero um idiota. Ora, já tenho mais de quarenta anos de formado! Não sou mais estudante!
Em outros sonhos, estou de volta a 2ª Vara da Seção Judiciária de Sergipe. A dificuldade agora se agasalha no prédio onde a Seção está instalada: não consigo chegar ao gabinete. O elevador para em andar diferente. Também por não me encontrar devidamente trajado. Ou me perder no meio do edifício, errando o caminho, sem conhecer ninguém e sem ser reconhecido. Nunca consigo alcançar o gabinete. Novo afogo. Me acordo, tomo pé da situação, o coração se normaliza.
Como a aposentadoria já sobe na minha calçada, temo que, daqui a uns quarenta anos, sonhe que estou em sessão da turma, a relatar feito que não sei qual é nem do que se trata, não tenho os autos no vídeo, o pje não funciona, não sei por onde começar, todos a espera que eu profira o voto. Penso que, numa hora dessa, só me resta gritar por socorro, pelo amor de Deus, alguém me acorde
Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras