ARACAJU/SE, 14 de março de 2025 , 17:29:18

De urubus e da oportunidade perdida

De longe dava para ver algo diferente na areia. De perto tudo se esclarece: uma tartaruga morta, que as ondas do mar devem tê-la empurrado para a praia, de onde não saiu. Não havia sinal de pancada. De estranho apenas um liquido vermelho escuro na sua parte traseira, a constratar com a cor da areia. Causa morte, portanto, desconhecida. No outro dia, não vi a no local, fazendo com que eu considerasse que uma outra onda a levou de volta ao mar. Parecia estar certo. Só que, no terceiro dia, de longe, praia deserta, urubus presentes, muitos metros à frente, não mais que uns sete, se aglomeravam em torno de algo morto, e, não tive dúvida alguma: era uma tartaruga, ou a tartaruga. Um deles, dava para ver bem, atacava pelo fundo o animal morto. Os demais, presenciavam a cena. Não me aproximei. Nada de bater chapa com eles.

O que me chamou a atenção se verificou na volta. Dos sete urubus, mais ou menos, acredito, havia uns trinta. Todos parados, voltados para o animal morto. Lembrei de um velório, as pessoas, enroupadas de luto, da cabeça aos pés, cena que filme estampa, fitando o morto, como se todos estivessem a rezar pela salvação da alma da defunta, um silêncio que o momento sempre dita. Assim, estavam os urubus, a cercar o cadáver da tartaruga, enquanto um deles, por certo, futucava as vísceras da falecida, como fazia antes. A disciplina dos urubus me impressionou, sem nenhum bicar o outro, todos parados, verdadeiras estátuas, voltados para o cadáver da tartaruga, a apreciar uma cena que, por certo, era a de um deles saborear o que a morta ainda oferecia de atraente em termos de alimento, os demais ao redor a contemplar o almoço de um deles, disciplinadamente parados. A união faz a força. Urubu unido jamais será vencido.

Não estava munido da máquina fotográfica, com lente zoom a captar, de perto, estando longe, a cena. O celular também não me acompanhava. Oportunidade perdida. Uma pena. Se o homem prevenido vale por dois, o fotógrafo, com seu equipamento pronto, vale também por três. Lamento pelos urubus, que, a esta altura, talvez estivessem se exibindo em revista, com possibilidade de serem convidados para novas fotos, no que iam faturar, e, talvez, assim, deixassem de comer carniça para frequentar os bons restaurantes, que, aqui por perto, não falta.

Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras