ARACAJU/SE, 3 de maio de 2025 , 0:41:15

Dois atletas lá detrás

Jogar no gol era castigo reservado ao mais fraco, forma de sacramentar a condição de perna de pau do escolhido. O dono da bola, quando escalado para o gol, gritava logo que a bola era dele, e, nessa condição, não aceitava ser o goleiro. Ou escolhiam outro, ou o jogo não era realizado. Não havia argumento mais convincente. Claro que ninguém conhecia a sentença, vinda lá do Rio de Janeiro, a apregoar que onde o goleiro pisava não nascia grama. O problema estava no gol, ficar ali parado, só esperando o adversário chutar, não despertava interesse de ninguém. Nessa filosofia, não despontaram bons goleiros, aliás, nem goleiros, pelo desinteresse na posição. Do que me lembro, nos tempos do Ginásio e adjacências um pouco futuras, só me vem à mente o nome de Nilsinho, goleiro por livre e espontânea vocação. Mais nenhum.

Fora do gol, atuando em todo o campo, que era menor que o oficial, cabendo seis ou sete em cada lado, no máximo, vou buscar o nome de Walter de Joãozinho Baú, que estava a milhões de metros acima da média geral. O futebol estava no sangue. Sobrinho de Debinha e de Evangelista, irmão de Gustinho, de uma família de atletas de longas datas, o time que atuava, obrigatoriamente, tinha um a menos, para compensar a sua presença, norma que ninguém, de sua ala, reclamava. Walter valia por dois ou três. A bola permanecia em seus pés a maioria do tempo, em todo lugar de campo. Tanto jogava como falava, deixando a dúvida do motivo que o impediu de se tornar um profissional, carreira que o irmão abraçou.

Tivemos outros bons jogadores, nenhum chegando ao nível de Nilsinho e de Walter, dentre os da minha geração. Contava-se no dedo os quem mantinham distância das peladas. Cito Bosco, inibido pela miopia, não se atrevendo a jogar de óculos, e um outro, aqui e ali. O mais, partilhava, uns berrando mais do que jogando, valendo citar o apelido que Abrahão pregou num  deles, que corria parecendo que o gramado estava cheio de espinhos, de Prego de Cumieira. Eu? Distinguia a bola de um coco, sabia que não se devia chutar uma pedra, não perdia tempo com a bola nos pés, mesmo porque nunca aprendi a driblar, e, por incrível que possa parecer, nunca suei a camisa jogando bola. De positivo, onde tinha pelada, estava no meio. Não perdia uma.