Um dia o governo tomou vergonha e mandou uma comissão à cidade interiorana. Procuraram um bancário, escolhido para ser candidato a prefeito, discurso bonito de apoio à sua candidatura, a necessidade de derrubar a situação local. O bancário ouviu. Aqueles homens de bonitos ternos lhe inibiam até que perguntou quanto o prefeito ganhava por mês. Com a resposta, o desabafo: Não quero. Se ganho mais no banco, não quero roubar da Prefeitura. A conversa se encerrou.
Não é história de contos de fada. É fato verdadeiro, os nomes permanecendo ocultos à míngua de autorização para divulga-los. Tem tanta importância como outra, década de trinta, na qual o prefeito convidou um adversário político para assumir o cargo de Tesoureiro, o mais importante depois do dele. Ambos os fatos mereciam uma placa de bronze no pórtico da Prefeitura, para servir de alerta de que nem tudo está perdido. Pode ser que no fundo do poço alguma luz, nem que seja de vaga-lume, se enxergue, a escada colocada para o patriotismo alcançar a superfície.
Desses fatos sempre me lembro quando vejo a milionária companha que se faz, os gastos que devem extrapolar os algarismos das máquinas de calcular, o imenso número de seguradores de bandeiras sentados em um banquinho em quase todas as avenidas da cidade, chegando sempre em coletivos, os conjuntos a tocar músicas de carnaval ou a música de exaltação as virtudes milagreiras do(a) candidato(a), sorriso do(a) candidato(a), a cara bonita de algumas candidatas que, fosse um concurso de miss, alcançariam coroa de vencedora, sem falar na promessa de fazer tudo e o mais, que, se concretado, o prefeito vindouro não terá o que fazer. Sem barulho não se vende as virtudes do(a) candidato(a). É a regra. Parece até liquidação de loja.
Fica a dúvida: como justificar o interesse em gastar tanto para ser prefeito, quando os vencimentos deste, em quatro anos, não chegam nem perto da sombra das despesas da campanha? O que se esconde atrás da cortina do palco, onde o olho da plateia não alcança? Será que o tonel de ouro e prata, onde o arco-íris nasce, se esconde atrás da cadeira do prefeito, se constituindo em segredo fechado, que dali não escapa? A propósito, a observação de um amigo que ouviu alhures: o importante não é o que o político diz, mas o que não diz. Papo encerrado.
Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras