ARACAJU/SE, 9 de maio de 2025 , 7:54:49

Eu e a história da banda

Se um dia a história da banda de Itabaiana for escrita, espero que haja um lugar para a referência ao meu nome, no que o leitor há de perguntar que soberba é essa que me faz querer assim. Eu explico, pairando nos nomes que, por algum tempo, por lá passaram como músicos. Eu, por, quatro anos, inicialmente como trompista, depois evolui ou me evoluíram para o trompete, que ainda conservo. Então, na relação dos músicos, faço questão de estar, entenda-se, dos músicos medíocres, simples sopradores, no que acredito que, pela letra de meu nome, eu seja o último, se o último for na classe da mediocridade. Quiçá alguns disputem comigo o troféu.

Sem falsa modéstia, a relação dos músicos deve conter os bons, os que se destacaram, os que, efetivamente, marcaram época, e, entre eles, dos que conheci, indico logo Antonio Melo, meu mestre, que, uma vez, quando a banda esteve perto de se dissolver, à míngua de aprendizes para se transformar em músicos, ele vestiu a farda da banda do ginásio, e, no meio dos meninos, estava lá a ostentar seu saxofone tenor, instrumento que, na frente da casa, o pé num banco, costumava tocar sozinho, porque, para tocar saxofone deve ter nascido, vangloriando sempre de executar a parte mais rápida de Vassourinha. E tocava mesmo, os dedos pulando nas teclas.

Eu, coitado de mim, me contentei em soprar o trompete em alguns dobrados, caprichando naqueles em que o piston imitava a corneta, todos parados, no contracanto, eu garboso, embocadura no auge, a me exibir para meia dúzia de meninas que prestigiavam o ensaio. De positivo, a iniciativa de reunir alguns músicos e formar uma orquestra especializada em carnaval, tocando em algumas cidades vizinhas, uma vez no mercado de carne, a podridão subindo nariz a dentro quando a gente respirava. Mas, o pagamento pesava e valia o sacrifício.

O adeus da banda foi melancólico. Época de férias, a embocadura na caixa prego. Só eu, no trompete, fui ao ensaio. O dobrado 220, acionado. O canto que o piston fazia sozinho era de minha atribuição. No azo exato, a embocadura me traiu. O som foi um gemido. O mestre me salvou. Último ensaio. Nem me despedi nem anunciei saída. O arrependimento veio depois.

Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras