ARACAJU/SE, 2 de dezembro de 2024 , 5:59:09

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Formação médica e a ética

Uma preocupação atual com a proliferação de cursos de medicina no Brasil é, além da formação médica, o ensino da ética profissional como uma necessidade urgente.

Nos últimos dias tem acontecido um debate ainda inicial sobre o crescimento do número de cursos privados de medicina e a possibilidade de uma concorrência predatória, não somente com relação ao preço das mensalidades, mas principalmente na qualidade do ensino médico.

No Congresso Nacional já começam a discutir a possibilidade de exames nos moldes do exame da Ordem dos Advogados para que o formado em medicina possa exercer a profissão. Uma espécie de revalida dos cursos nacionais.

O revalida tem demonstrado que os brasileiros que saíram do país para cursar medicina, sem necessitar de muito preparo para entrar na faculdade, não conseguiram ser aprovados no exame do revalida que torna válido o diploma do médico formado no exterior.

Esse rigor deve existir, afinal o profissional médico tem sob a sua responsabilidade a saúde e a vida dos pacientes, especialmente aqueles, e são maioria, que dependem do sistema público de saúde.

A fotografia da situação do ensino jurídico no país pode ser a cópia da foto do ensino médico em pouco tempo.

A ganância das empresas de educação, muitas delas com investidores nas bolsas de valores, tem gerado uma disputa por cada vaga de medicina, que custa hoje em média, 9 mil reais por mês, e ao fim de 6 anos, cerca de 1 milhão de reais, considerando além das mensalidades, o custo do material didático, transporte, alimentação e moradia.

Um investimento para a maioria das famílias brasileiras fora do orçamento, obrigando a buscar o financiamento estudantil como saída, mas com a consequência de o formado já iniciar a carreira devendo um apartamento de luxo.

A disfuncionalidade da carreira médica também explica a concentração de profissionais nas capitais e no sudeste do país, enquanto as regiões mais pobres sofrem com a falta de profissionais.

Outro ponto é a saúde dos médicos que precisam para garantir uma renda que possa atender suas necessidades, inclusive o pagamento das dívidas pelo curso, correrem de plantão para plantão, com risco de doenças provocadas pelo estresse, acidentes nos deslocamentos.

Um fato que chamou a atenção na calamidade das enchentes do Rio Grande do Sul foram as mortes de dois jovens médicos, voluntários, por problemas cardíacos. Com toda certeza, não foi o quadro avistado na tragédia gaúcha, mas a luta diária desses profissionais em suas atividades.

A saúde mental também deve ser objeto de atenção, porque cada vez mais os médicos têm sido afetados de tal forma que precisam de remédios controlados para ansiedade, para dormir, e outros transtornos de ordem psiquiátrica.

E, por fim, a formação ética deficiente, que termina por conduzir o novo profissional para o vale tudo para alcançar fama e dinheiro, e terminam por encontrar processos éticos disciplinares, cíveis e criminais.  O ideal é que os cursos de medicina formem profissionais competentes tecnicamente e também pessoas com postura ética exemplar, restabelecendo assim o prestígio que em outros tempos o médico gozava na sociedade, em regra.