Como grande varejista que se preza, a fast fashion Riachuelo, patrocinadora oficial do Time Brasil, vem promovendo um discurso afiado sobre sustentabilidade e responsabilidade social, mas com o objetivo principal de visar o lucro. Com o estoque “limitado” disponível tanto em lojas físicas quanto no e-commerce, as vendas começaram no início do mês.
Acontece que nos últimos dias, as redes sociais foram inundadas com críticas aos uniformes dos atletas brasileiros para o desfile de abertura dos Jogos Olímpicos em Paris, realizado na sexta-feira, 26 de julho. Produzidos em parceria com o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), esses trajes geraram debates sobre estética, representatividade e, principalmente, sobre a veracidade das alegações de sustentabilidade.
Essa mesma polêmica sobre a confecção de uniformes também ocorreu em outros países latinos, como Chile e México, envolvendo grandes cadeias varejistas como patrocinadoras.
A Polêmica da Sustentabilidade
Entre coletivas de imprensa e releases, a empresa havia anunciado que as jaquetas jeans dos uniformes eram feitas com “100% de fios reutilizados”. No entanto, especialistas confirmaram que nenhuma indústria mundial é capaz de produzir peças inteiramente com fibras reutilizadas. A realidade era bem diferente: apenas 23% das fibras eram provenientes de aparas da fábrica de Natal da Riachuelo. Apesar de esse número ser significativo e digno de celebração, a informação inflada caracteriza um caso clássico de greenwashing, que indica a injustificada apropriação de virtudes ambientalistas por parte de organizações ou pessoas, mediante o uso de técnicas de marketing e relações públicas.
Impacto Social e Valorização Cultural
Além da questão ambiental, a Riachuelo também promoveu a coleção como uma valorização da biodiversidade brasileira, com bordados de araras, tucanos e onças realizados por aproximadamente 90 bordadeiras, algumas da Cooperativa das Mãos Artesanais, de Timbaúba dos Batistas, no Rio Grande do Norte. O trabalho das artesãs gerou um impacto social positivo, oferecendo remuneração e visibilidade global para a arte local. No entanto, foi revelado que o bordado não era inteiramente feito à mão, como inicialmente divulgado pela varejista, mas utilizava máquinas de costura, o que gerou mais críticas sobre a transparência da comunicação da empresa.
Greenwashing e Imagem do Brasil
O “bafafá” não apenas levantou questões sobre práticas sustentáveis, mas também sobre a representação do Brasil em um evento de tamanha visibilidade. As peças, que variam de R$ 79,90 a R$ 599,90, foram consideradas simples e pouco representativas da rica cultura brasileira. Além disso, a escolha de trajes aparentemente desconexos com o ambiente da cerimônia – em pleno Rio Sena a bordo de barcos – foi vista como inadequada para a ocasião.
O Lucro Acima de Tudo
Como uma grande varejista de fast fashion, a Riachuelo parece estar mais focada em estratégias de marketing e na maximização do lucro do que em práticas genuinamente sustentáveis e socialmente responsáveis. A venda dos uniformes olímpicos desde o inicio do mês de julho reflete essa prioridade.
Esse episódio serve como um lembrete sobre a importância da transparência e da honestidade nas práticas de marketing e produção de moda. A responsabilidade social não pode ser apenas um slogan para atrair consumidores, mas deve ser uma prática genuína e consistente. As bordadeiras de Timbaúba dos Batistas são um exemplo de talento e tradição que merece ser valorizado de forma verdadeira, sem exageros ou distorções.
A discussão sobre os uniformes olímpicos brasileiros revela a necessidade de uma abordagem mais crítica e informada sobre sustentabilidade na moda. É essencial que empresas e consumidores estejam atentos às práticas de greenwashing e que a valorização cultural seja feita com respeito e autenticidade. Afinal, a imagem do Brasil, tanto no contexto olímpico quanto no mercado global, depende da integridade com que representamos nossas riquezas e tradições.