Comentarei adiante alguns pontos de uma pesquisa realizada pelo Banco Central do Brasil e o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), através da entrevista de dois mil brasileiros, na perspectiva de medir o nível de letramento financeiro da população. De acordo com a metodologia, a escala varia de 0 a 100, sendo que o resultado apontou um nível médio de letramento financeiro foi de 59,6.
A pesquisa de letramento financeiro e inclusão financeira de adultos foi realizada entre março e abril de 2023, sendo bem atual e utilizando metodologia desenvolvida pela Rede Internacional de Educação Financeira (INFE) da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Registre-se que em 2003, a OCDE lançou um programa internacional de educação financeira, sob a égide do Comitê de Mercados Financeiros e do Comitê de Seguros e Previdência Privada da OCDE.
Conceitualmente, conforme a OCDE, a educação financeira é o processo pelo qual consumidores/investidores financeiros aprimoram sua compreensão sobre produtos, conceitos e riscos financeiros e, por meio de informação, instrução e/ou aconselhamento objetivo, desenvolvem as habilidades e a confiança para se tornarem mais conscientes de riscos e oportunidades financeiras, a fazer escolhas informadas, a saber onde buscar ajuda, e a tomar outras medidas efetivas para melhorar seu bem-estar e sua proteção financeira.
De acordo com a pesquisa sob análise, Pix, cartão de crédito e conta corrente ou conta salário são os produtos e serviços financeiros mais conhecidos e utilizados pela população, destacando-se o Pix como o principal deles, com 91,6% dos brasileiros afirmando conhecer esse meio de pagamento e 64% informando que o utilizam. Algo preocupante é a revelação de que 64% dos brasileiros enfrentou um desequilíbrio financeiro nos últimos anos. Por outro lado, 81,8% afirmam sempre ou frequentemente pagar as contas em dia, mas somente 14,3% conseguem fazer um cálculo de juros simples.
Estas informações servem para medir o nível de letramento financeiro da população, que é um conjunto de conhecimentos, atitudes e comportamentos que ajudam a fazer boas escolhas no uso do dinheiro no dia a dia.
A pesquisa apontou que o letramento financeiro é maior entre os jovens de 16 a 24 anos (64,5) e homens (61,8); caindo entre os maiores de 60 anos (53,6) e para aqueles com renda familiar de até dois salários mínimos (56).
O índice de letramento financeiro da pesquisa foi calculado considerando três dimensões: comportamento financeiro, atitude (ou postura) ao fazer escolhas financeiras e conhecimento sobre finanças.
Comportamento financeiro – esta é a dimensão na qual os brasileiros se saem melhor, com média de 67,8 em uma escala de 0 a 100. E os resultados são os seguintes: 81,8% dos entrevistados afirmam sempre ou frequentemente pagar as contas em dia, para mim este é fato relevante, pois revela o caráter em cumprir obrigações mesmo diante de dificuldades e é um ponto de análise nas instituições financeiras; 81,4% responderam que pensam se podem pagar uma compra antes de realizá-la, esta atitude revela a racionalidade econômica da efetividade necessidade sobre o que está sendo comprado; 79,6% dos indivíduos responsáveis pelas decisões financeiras adotam mais de uma medida de controle de orçamento, saber controlar orçamento requer rotina diária de verificação das entradas e saídas e um acompanhamento sistemático.
Atitude ou postura financeira – neste quesito, a pontuação média foi de 53 em uma escala de 0 a 100. A postura financeira do brasileiro revelada na pesquisa é a preferência em guardar dinheiro do que em gastá-lo no presente. Porém, o número de pessoas que preferem satisfazer desejos imediatos a pensar futuro ainda é elevado.
Conhecimento financeiro – nesta variável, a média foi de 53 em uma escala de 0 a 100. Algo preocupante é saber que apenas 14,3% conseguiram fazer um cálculo de juros simples. É um conhecimento que é adquirido no ensino básico, mas muitos esquecem no decorrer da conclusão dos estudos.
Inclusão financeira – a inclusão financeira foi medida a partir do conhecimento e do uso de uma lista de 23 produtos e serviços financeiros e revelou alguns pontos que merecem ações de busca de elevação do letramento financeiro do brasileiro. Destacando que o nível de conhecimento sobre produtos e serviços financeiros é relativamente alto entre a população: 74% dos entrevistados conhecem, ao menos, 13 produtos ou serviços da lista.
Sobre a resiliência financeira e as preocupações financeiras do brasileiro, a pesquisa sinaliza que entre as atitudes do brasileiro para equilibrar o orçamento, as duas principais atitudes são a busca pela redução de gastos e a procura por outras fontes de renda. Mas esta postura é para os brasileiros que possuem alguma resiliência financeira.
A pesquisa aponta que 49,1% dos brasileiros entrevistados disseram que preocupações financeiras são motivo de estresse em casa e 45,5% afirmaram que essas preocupações prejudicam a saúde.
Diante do apresentado, temos no nosso país o desafio de propiciar o bem-estar financeiro do brasileiro, que é aquele estado em que a pessoa consegue cumprir com suas necessidades financeiras, conseguem lidar com choques financeiros e, ao mesmo tempo, ser capaz de se planejar e de conquistar sonhos.