ARACAJU/SE, 2 de dezembro de 2024 , 6:34:55

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Maria do Carmo, um exemplo

O meu primeiro contato com Maria do Carmo, como primeira-dama do Estado, no primeiro governo de João Alves Filho, seu esposo, deu-se por conta de Léa Sobral, minha amiga da Capela. Fomos, eu e Léa, uma vez, falar com Maria, no momento em que o governador estava se afastando do grupo político do ex-governador Augusto Franco, para ganhar “asas” próprias, no comando da política sergipana, ou de uma ala dessa política, que haveria de se consolidar em torno do seu nome. Daquela vez, daquele contato inicial, resultou numa aproximação cada vez mais constante.

Lembro-me que, noutra ocasião, nós ligamos para ela, para almoçar no palácio de veraneio. Maria disse que iria comer uma carne de bode com favas. Então, Léa disse: “Dona Maria, pelo amor de Deus, mande fazer uma comida melhor”. Era a irreverência de Léa.

Certa feita, D. Maria me pediu para ver se arranjava uma casa em Nossa Senhora das Dores, até “tantos mil”, para ela doar a uma pessoa que trabalhava com ela há muito tempo. Consegui a casa como ela queria. Foi comprada e doada.

Prestes a iniciar-se o segundo mandato de João, eleito, de novo, em 1990, Maria pediu ao governador para que eu fosse nomeado diretor financeiro da FUNDESE, que seria presidida pela professora Marlene Pinto Sales, com quem eu já tinha trabalhado, na Educação, ela como diretora da DGE, e eu, como diretor regional de educação, na DRE-5, em Dores, no primeiro mandato de João. Então, ele me chamou e disse que Maria fazia questão que eu fosse ajudar Marlene, ocupando o cargo citado. Aceitei. Foi um pedido de Marlene a Maria, que queria no setor financeiro alguém que ela conhecia e confiava. Maria do Carmo tornou-se a presidente do Conselho de Administração da referida Fundação.

A atuação de Maria do Carmo na área social do governo fez-se sentir de forma incisiva. Ela tinha uma obsessão por acabar as favelas de Aracaju, para dar condições de moradia digna às pessoas mais carentes. E João encampou uma política nessa área que se tornaria exitosa, inclusive buscando acabar com as casas de taipa, no interior do Estado.

Depois, D. Maria, como era carinhosamente chamada pelas pessoas simples, enveredou pela assistência à saúde feminina, notadamente na prevenção do câncer, criando o projeto PRÓ-MULHER, com atuação cada vez mais crescente nos três mandatos de João Alves Filho, como governador dos sergipanos. Além disso, ela lutou para a criação do Centro de Referência da Mulher.

Eu participei diretamente do projeto PRÓ-MULHER, na condição de secretário de Estado da Saúde, entre 30 de dezembro de 2004 a 6 de junho de 2006. No terceiro mandato de João Alves, o projeto foi ampliado, para atender também aos homens, na prevenção do câncer, além de outros atendimentos para ambos os sexos.

Maria do Carmo tornou-se a primeira mulher sergipana a ser eleita para o Senado Federal e a primeira brasileira a ocupar o cargo de senadora por três mandatos seguidos. E mesmo João Alves perdendo as eleições para governador, em 1998 e 2006, Maria do Carmo conseguiu eleger-se senadora, e voltando a eleger-se em 2014, quando João estava como prefeito de Aracaju.

Ela não foi uma primeira-dama deslumbrada, apática, sentada num gabinete, atrás de um birô. Não. Ela vestia a calça jeans e metia o pé na lama. Disso eu dou testemunho. Na FUNDESE, eu a acompanhei algumas vezes por aí: Almirante Tamandaré, Terra Dura, Lamarão etc. Na lama ou na poeira, ela fazia o que lhe competia fazer.

Conservadora, como era do seu agrupamento político, comandado pelo esposo, um dos grandes executivos públicos deste Estado em todos os tempos, ela não era de aparecer por aparecer. Podiam até dizer que, no Senado, ela não teve maior destaque. Ora, foi senadora por três mandatos. Atuou no campo que podia e queria atuar. Sem estardalhaços. Enfrentou uma grave enfermidade. Não sucumbiu.

Agora, chegou a vez de ter a chama da vida apagada. Morreu no último sábado. Deixou a família e muitos amigos chorosos. De qualquer forma, foi um exemplo.