O uso de medicamentos psicoativos em crianças e adolescentes com neurodiversidade, como Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Transtorno do Espectro Autista (TEA), tem se tornado um tema amplamente debatido no Brasil. Esses medicamentos, incluindo antidepressivos e estabilizadores de humor, são frequentemente prescritos para aliviar sintomas como ansiedade, depressão e hiperatividade. Embora possam trazer benefícios significativos quando utilizados corretamente, há preocupações sobre seus efeitos colaterais, diagnósticos equivocados e a dependência da medicalização como solução predominante.
Entre os benefícios do uso de medicamentos psicoativos está a possibilidade de melhorar a concentração, reduzir a impulsividade e proporcionar maior estabilidade emocional para crianças e adolescentes. Esses efeitos podem facilitar o desempenho escolar e as relações sociais, além de permitir que os jovens tenham uma vida mais equilibrada e produtiva. No entanto, os efeitos colaterais podem incluir insônia, irritabilidade, alterações no apetite e até problemas cardiovasculares em casos de uso prolongado. Esses riscos evidenciam a necessidade de acompanhamento médico rigoroso e multidisciplinar para evitar complicações e garantir que o tratamento seja seguro e eficaz.
A questão da medicalização excessiva também é motivo de preocupação. No Brasil, dados do Conselho Federal de Farmácia revelam um aumento significativo no consumo de medicamentos psicoativos nos últimos anos. Entre 2017 e 2021, a venda de antidepressivos e estabilizadores de humor cresceu cerca de 58%. Durante a pandemia de Covid-19, o consumo desses medicamentos disparou, com um aumento de 36% nas vendas entre 2019 e 2022. Esses números refletem o impacto da pandemia na saúde mental da população, mas também levantam questões sobre o uso indiscriminado e a dependência de medicamentos sem uma abordagem integrada.
Especialistas ressaltam que o tratamento da neurodiversidade deve ir além dos medicamentos, incorporando alternativas complementares e holísticas. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), por exemplo, ajuda crianças e adolescentes a desenvolverem estratégias para lidar com emoções e comportamentos desafiadores. A Análise do Comportamento Aplicada (ABA), amplamente utilizada para indivíduos com TEA, oferece suporte na modificação de comportamentos específicos e no desenvolvimento de habilidades funcionais. Essas intervenções têm mostrado eficácia na promoção do bem-estar e podem reduzir a necessidade de medicamentos em alguns casos.
Intervenções educacionais também desempenham um papel importante no cuidado de crianças e adolescentes neurodiversos. Programas adaptados ao contexto escolar, como ensino estruturado e reforço positivo, ajudam no desenvolvimento de habilidades sociais e acadêmicas. Além disso, o treinamento de professores para reconhecer e apoiar as necessidades específicas desses alunos é essencial para promover a inclusão e o progresso educacional.
O apoio familiar é outro elemento crucial. A psicoeducação para pais e responsáveis ajuda a compreender os desafios enfrentados pelas crianças, promovendo estratégias para melhorar a comunicação e o manejo da rotina diária. Terapias familiares e orientações sobre o impacto das dinâmicas familiares no desenvolvimento infantil podem ser altamente benéficas. Ademais, mudanças no estilo de vida, como alimentação balanceada e a prática de atividades físicas, têm mostrado efeitos positivos no bem-estar geral e na interação social.
Embora o Sistema Único de Saúde (SUS) enfrente dificuldades para garantir diagnósticos precoces e tratamentos especializados, a conscientização sobre neurodiversidade tem avançado no Brasil. A Lei Berenice Piana, Lei n.º 12.764 de 2012, assegura direitos e serviços para pessoas com TEA. Ainda assim, é necessário investir na formação de profissionais especializados, na criação de centros de referência em saúde mental infantil e na ampliação de pesquisas epidemiológicas para compreender a prevalência e as necessidades específicas da neurodiversidade.
Portanto, o uso de medicamentos psicoativos deve ser visto como uma parte de um plano de cuidado mais amplo e integrado, que leve em conta as particularidades de cada criança e adolescente. A combinação de intervenções terapêuticas, apoio educacional e familiar, e mudanças no estilo de vida oferece uma abordagem mais humana e eficaz para promover o desenvolvimento pleno de jovens neurodiversos no Brasil. Apenas com um olhar multidisciplinar e uma maior conscientização é possível transformar desafios em oportunidades e garantir que todas as crianças tenham acesso ao cuidado que merecem.