ARACAJU/SE, 9 de maio de 2025 , 5:43:24

Meu gato Bolinha

Bolinha foi o único gato que nasceu lá em casa. O destino dos irmãos – entre quatro ou cinco -, desconheço, como não sei dizer o que aconteceu com a mãe, se baixou em outra paróquia, se morreu, nada sei, nem há ninguém mais que possa informar. Provavelmente os irmãos foram doados. Não faltava quem não quisesse um gato. Só Bolinha ficou, porque caiu nas minhas graças, a começar pelo nome, todo gordinho, parecendo uma bola, daí Bolinha, sacramentei o nome, sem necessidade de registro cartorário. Ao crescer, conservou o nome, embora, ao pé da letra, não fosse mais redondo. Ficou comprido.

Foi o único gato, posso dizer, com toda a certeza, que era meu. Nenhum outro mais, a começar pelo fato de que gata alguma se dignou parir mais lá em casa. Só a mãe de Bolinha, de nome desconhecido, lastimando hoje não ter perguntado a mamãe qual era o nome dela, se era que tinha. Não consigo captá-la antes do parto. Só no momento deste, na porta do banheiro, os gatos jogados para fora, um a um, eu como testemunha, calado, espantado, a gata bem tranquila, sem parteira, a expelir seus filhotes e deles tomar conta devida, lambendo-os, um a um.

Um dia pela manhã, seu Antonio (de Botezinha?), habitante da Serra, castrador emérito de gatos, apareceu. Bolinha, inocente e manso, se deixou levar. Não assisti à operação, ou porque não me interessei, ou porque a cara de seu Antonio não fosse lá tão amistosa. Dizia-se que, castrado, o gato engordava e não ia para os telhados atrás de gata. Decidiam o destino de Bolinha, sem que ele fosse consultado. O fato aconteceu, com absoluta certeza, no ano de 1957, no quintal, tendo muita galinha pedrês do pescoço pelado como testemunha.

Quando morreu, com dez anos, eu estudava no Aracaju. Não há registro do óbito na caderneta de anotações de papai. Dele só ficou uma foto. Lembranças, contudo, muitas. Uma, que não se apagou. De manhã cedo, um frio danado, papai abria a porta que dava para o pátio, Bolinha entrava, indo direto para o meu quarto. Eu, automaticamente, levantava a coberta, ele pulava na cama e se acomodava nos meus pés, ficando até que eu me levantasse. Todo santo dia. Deve ter sentido um bocado minha ida para Aracaju. Não deixei substituto para o seu apego.