ARACAJU/SE, 14 de junho de 2025 , 10:02:24

Meu mundo de antanho

O mundo era pequeno, aliás, bastante pequeno. E os destinos, todos ligados e interligados. De casa para a Igreja, de casa para a praça – centro maior da comunidade, quase igual à praça dos lugarejos da Suíça, onde os destinos locais se decidiam -, de casa para a feira, de casa para o Ginásio. Tudo próximo, tudo perto, caminhada que se fazia na perna. O mais longe era o campo do Itabaiana, lá no Cruzeiro, atravessando o Beco Novo – que nunca se tornou Beco Velho – da parte inicial e estreita até o campo consumia alguns minutos, mas não o suficiente para cansar.

Passasse um círculo, estaria a urbe completa ali reunida e montada, onde as pessoas, nas portas, ou nas janelas, se repetiam, a gente, na ida ao Ginásio, vendo os mesmos habitantes, trecho por trecho da Praça da Santa Cruz à Praça da Bandeira, e entre elas, uma senhora, zarolha, morena, já de idade, que estava sempre, ou quase sempre, na janela, eu evitando fita-la de frente, por não saber para que olho deveria dirigir meu olhar. Havia outras que não se pregaram em sala de minha memória e, desta forma, nunca me acompanharam mundo a fora.

Me espanta hoje a gente não cumprimentar as pessoas, ignorando-as, apesar de passar pelas calçadas de suas casas, religiosamente, durante dez meses por ano, ou seja, em quatro anos a englobar quarenta meses, e, mesmo assim, completamente pão duro de continências, embora essas pessoas  tomassem lugar de frequência no nosso mundo de caminhos e se fizessem tão presentes. Falta de educação de nossa parte? Quiçá tenha faltado um ente mais velho a abrir os olhos da meninada de se constituir a saudação em gesto de cortesia, típico de pessoas educadas, a ser cultuada desde cedo. Trafegava-se nas calçadas, sem nenhum morador merecer o mais leve aceno, por menor que fosse, apesar de se instalarem nas portas e nas janelas.

Mundo aquele pequeno o meu, simples e atrasado, de panela de barro e de carne frita, de tudo repetido diariamente, tempo de aula, férias, namoro, paixões, os bancos da praça  transformados em tribunas, mundo que perdeu as configurações com o passar dos anos e se escondeu nas fotografias. É nelas que a gente da minha idade se entranha e se encanta, boca fechada ao tê-las em mãos, instante em que nenhuma palavra consegue ser pronunciada. A saudade não deixa.