Dia desses eu estava meditando, quer dizer, tentando entrar em um contexto mental de quase não pensar. A vibe é meio louca, maluco. Percebi que é possivel ouvir o silêncio interior. E, quando já estava quase no Nirvana (já conseguia ouvir o riff de ‘Smells like teen spirit’), acordei de súbito com uma furadeira hardcore desmentalizando a minha paz.
– Fiaducabrunco barulhenta!
Fui impelido a xingar até a última geração da furadeira. Mas me lembrei de que estava no processo de busca da paz interior. Tentei acalmar os ânimos inflamados da minha paciência. Toquinho, meu shih tzu parceiro entendeu a gravidade do contexto e me veio lamber o dedão do pé. Que carinho!
Entendi que apenas alguns segundos de respiração podem ajudar a não perder a calma.
– Vruuuuuuuuuuuuuuuu! E tome mais furadeira!!
Toquinho latia na minha defesa. O seu au au (senti isso bem) foi reclamando para que o barulho (quem mora em apartamento passa por isso) fosse cessado e eu voltasse à paz do meu momento.
Comecei a latir também. Peguei uma guitarra, aumentei o volume, liguei a distorção e ‘pau na moleira’.
– Bora disputar ruído, p@#$%!
O metal comeu no centro. Fiz barulho mesmo! Parecia que eu estava com minha paz se diluindo.
– Peraí, que p@#$% essa é essa??
Eu entrei na mesma sintonia e me pus a fazer barulho também. O que ganhei? Desgaste. Não poderia responder na mesma moeda fajuta. Não mesmo. Coitada da furadeira…estava apenas fazendo seu trabalho.
Percebi que eu era dono e senhor do controle das minhas reações. Eitaaaaaa! Achei o caminho da mina. Não é o que acontece comigo, mas como reajo. Eis o segredo! e Que experiência!
A partir daquele momento de senhorio das minhas reações (foi instantâneo igual a leite em pó em água quente), a furadeira passou a ser apenas …sei lá…apenas nada que não pudesse se suportar.
Voltei a meditar! Toquinho me acompanhou.