ARACAJU/SE, 18 de outubro de 2024 , 2:21:52

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Monstros à solta

Os assediadores, importunadores e abusadores sexuais estão à solta. Não são pessoas normais. São, sim, monstros que se travestem de quaisquer tipos de profissionais. Muitas vezes, no caso dos abusadores, eles se internam dentro das próprias famílias ou são pessoas muito próximas destas.

Sejam médicos, pedreiros, advogados, motoristas, professores, servidores públicos, líderes religiosos, desocupados, ou o que forem, são monstros e devem ser punidos severamente.

Os abusos são repugnantes, mas, o são muito mais quando ocorrem contra crianças e adolescentes, especialmente nos casos em que essas criaturas são portadoras de deficiências físicas ou intelectuais, que deveriam ser muito mais protegidas e respeitadas. Abusadores são pessoas deformadas daí a sua monstruosidade. Não merecem nenhuma consideração, por mais dura que seja esta minha forma de expressão. Não merecem. Da misericórdia de Deus, nesses casos, somente o Pai Eterno pode mesmo cuidar. A misericórdia, como nós o dizemos, é infinita, assim como o amor e a bondade do Pai. Todavia, também infinita deve ser a responsabilidade de cada um pelos atos praticados.

No final do mês passado, em Santa Catarina, um pai foi absolvido no Tribunal do Júri, quando respondeu por tentativa de homicídio, posto que tentou matar o abusador do seu filho, um adolescente portador de deficiência intelectual. O pai atirou no pescoço do estuprador, que, contudo, sobreviveu. O pior: o estuprador era irmão gêmeo da mãe do adolescente, segundo alegação do Ministério Público, foi estuprado mais de 300 vezes. Mais de 300 vezes! Monstro. Monstro. Monstro.

Passaram-se 9 anos, para que o veredicto do Júri fosse anunciado, pois a tentativa de homicídio ocorreu em 2015, data em que os pais do adolescente foram procurados pela psicóloga do filho para uma conversa. Durante o diálogo, a profissional perguntou se o casal tinha conhecimento dos abusos sofridos pelo adolescente. Segundo ela, em uma sessão anterior, a vítima narrou que o tio maldito o estuprava desde 1997.

Conforme relatou a vítima, o crime ocorria aos finais de semana – ocasiões em que ele ficava na casa do agressor. “No local, o rapaz era obrigado a vestir calcinha, fio dental e outras roupas femininas. O criminoso também passava batom na boca do sobrinho e o beijava. Segundo o desabafo da vítima, essas torturas psicológicas antecediam os estupros, que ocorriam em um rancho localizado na parte de trás da propriedade”.

Nesse rancho, conforme relatado, o tio-monstro-estuprador colocava o sobrinho diante de “roçadeiras, machados e foices”, com o intuito de ameaçá-lo. Conforme consta no processo, o monstro dizia que se o adolescente gritasse ou fizesse barulhos, o mataria.

O medo de morrer, o desamparo, o desespero, impediam que ele denunciasse os estupros. Contudo, anos após tanta violência, o rapaz revelou à psicóloga o que estaria acontecendo.

Durante a conversa com os pais do rapaz, a profissional disse que o casal ficou abalado. A mãe do jovem, inclusive, contou que “desconfiava” que algo estivesse acontecendo após uma vizinha alertá-la sobre comportamentos estranhos envolvendo tio e sobrinho. À época, porém, a genitora não teria cogitado sobre os abusos. Muitas vezes é, assim, lamentavelmente. Os pais não cogitam de que um monstro esteja agindo na família, de forma tão animalesca.

Após a reunião com a psicóloga, o casal voltou para casa. De acordo com o processo, eles planejavam registrar um boletim de ocorrência contra o estuprador. Porém, logo que a mulher saiu de casa para trabalhar, o esposo pegou uma arma, procurou o estuprador e atirou contra ele. O monstro não morreu.

Abriu-se um processo contra o pai atirador, que acabou preso por tentativa de homicídio. O tio-monstro-estuprador do rapaz respondeu por estupro de vulnerável e chegou a ser condenado pelo crime, quatro anos após depois. Entretanto, antes que pudesse cumprir a pena, morreu em um acidente de carro.

Por fim, o pai do rapaz, acusado de homicídio tentado, foi absolvido no dia 26 de setembro último, por um conselho de sentença formado por quatro mulheres e três homens. Ainda bem.