ARACAJU/SE, 5 de outubro de 2025 , 16:12:09

Mortes por bebidas adulteradas acendem alerta nacional

José Anselmo de Oliveira

Nas últimas semanas, o Brasil tem enfrentado uma grave crise de saúde pública provocada pela contaminação de bebidas alcoólicas com metanol, substância altamente tóxica e proibida para consumo humano. O epicentro dos casos está no estado de São Paulo, onde ao menos cinco mortes foram confirmadas e mais de 20 ocorrências estão sob investigação.

O metanol, também conhecido como álcool metílico, é utilizado na indústria química e como combustível. Quando ingerido, é metabolizado em compostos como formaldeído e ácido fórmico, que podem causar cegueira irreversível, falência renal e até a morte. Os sintomas iniciais incluem náuseas, dor abdominal, tontura e visão turva, podendo evoluir para coma e óbito em poucas horas.

A Polícia Federal abriu inquérito para investigar uma possível rede nacional de distribuição de bebidas adulteradas, com suspeitas de envolvimento do crime organizado. A origem do metanol utilizado ainda está sendo rastreada, e garrafas sem rótulo ou procedência foram apreendidas em bares e adegas da capital paulista.

Diante da gravidade da situação, o Ministério da Saúde, em parceria com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e secretarias estaduais, lançou um protocolo emergencial para atendimento de casos suspeitos. A medida inclui a notificação obrigatória ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) e ao Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS).

Além disso, o governo federal determinou que todas as unidades de saúde, especialmente as de urgência e emergência, estejam preparadas para identificar e tratar intoxicações por metanol. O tratamento inclui o uso de antídotos como fomepizol e etanol hospitalar, além de hemodiálise nos casos graves. No entanto, especialistas alertam para a escassez desses medicamentos na rede pública, o que pode comprometer a resposta ao surto.

A principal recomendação é evitar bebidas de origem duvidosa. O consumidor deve observar sinais como: Preço muito abaixo do mercado; Rótulos com erros de impressão ou colagem irregular; Lacres violados ou tampas frouxas; Odor químico estranho ou sabor incomum; Compra em locais sem nota fiscal ou registro oficial.

Em caso de suspeita de intoxicação, é fundamental buscar atendimento médico imediato e guardar a embalagem da bebida para análise. Familiares e amigos que tenham consumido o mesmo produto devem ser avaliados, mesmo sem sintomas.

Os profissionais devem estar atentos aos sinais clínicos que surgem entre 6 e 24 horas após a ingestão. A conduta inclui: Avaliação oftalmológica precoce; Solicitação de exames laboratoriais (gasometria, função renal e hepática); Correção da acidose metabólica; Administração de antídotos específicos; Notificação imediata ao CIEVS e CIATox local.

O Ministério da Saúde disponibilizou uma nota técnica com orientações detalhadas e reforçou a importância da capacitação das equipes de emergência.

A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) emitiu alertas aos Procons e intensificou a fiscalização em estabelecimentos comerciais. A Anvisa e o Ministério da Agricultura investigam falhas na cadeia produtiva e avaliam medidas para coibir a adulteração de bebidas.

A crise atual revela um novo padrão epidemiológico, atingindo consumidores em ambientes sociais, como bares e festas, e não apenas populações vulneráveis. As autoridades reforçam que a prevenção é a melhor forma de evitar novas vítimas.