ARACAJU/SE, 9 de maio de 2025 , 8:07:19

Na esquina, os mendigos

O velho, baixo, pernas arqueadas, chapéu roto, a pedir adjutório, na esquina, cruzamento de movimentadas avenidas. Do que ganhava, em nível de moedas, ia a farmácia trocar por cédulas. Depois, se dirigia ao supermercado onde adquiria requeijão cremoso. Assim passava o dia. A noite, tendo um papelão como cama, dormia embaixo de uma amendoeira. Se chovia, procurava abrigo na cobertura do posto de gasolina. De quando em quando, uma filha vinha busca-lo. O velho ia e retornava depois, me informou um bombeiro. Um dia foi para casa e não voltou, nem dele notícia se teve.

Já uma mulher, o rosto palmilhado de rugas, trocava de roupa na calçada do fundo do edifício onde moro, segurava um velho quadro com um retrato colorido quase ilegível de uma criança, e ia para a avenida pedir esmola. Só aparecia na sexta-feira pela manhã, repetindo-se a cena semanalmente. Uma vez, Helder, comigo no carro, observou que a criança do retrato já devia ter falecido pelo tempo que conhecia a mulher exibindo o quadro nas esquinas do bairro. De repente, deixou de aparecer, a gente levando um tempão para sentir a ausência.

Houve tempo, depois, em que a esquina era frequentada por um cidadão bem alto, pernas compridas, de bermuda, o olhar parado, a se movimentar com muita lentidão em direção aos veículos em busca de um trocado. Quando o via caminhando, a imagem que me vinha era a de Frankenstein, os pés se movimentando com mui vagareza, como se, em lugar de caminhar, os joelhos sem se dobrar, só pudesse se arrastar no chão. O tamanho me fazia lembrar de um zagueiro de time de futebol. Também se evaporou, só Deus sabe para onde.

Hoje, de frequentador, apenas um cidadão que chega antes da cinco da manhã. Muleta acomodada na axila esquerda, como substituto da perna desse lado cortada, encostado na cerca de proteção do canal, indo até os veículos quando estes fazem fila esperando o sinal verde aparecer. Tem presença diária, mesmo horário, não sabendo eu quem o traz e a que hora se retira. Bate ponto apenas pela manhã.

A realidade é que uns passaram, outros passam, muitos passarão, todos com a mão estendida à espera de uma moeda, acostumados a negativa, e assim a vida segue seu rumo em direção ao futuro. De certeza apenas que, na esquina, haverá sempre um mendigo pedindo esmola.

Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras