ARACAJU/SE, 25 de abril de 2025 , 2:55:01

Na passagem do 25º ano de sua morte

O tempo, cada vez mais, aumenta a distância, forrando sua imagem com uma nevoa a crescer  perduravelmente. Você se reduz apenas a um nome, que, nas quatro letras, reflete um mundo que, mesmo só preenchendo vinte anos e poucos meses de vida, foi o suficiente para se agigantar no coração de todos. Transforma-se, igualmente, em inúmeras fotos, uma das quais tenho no gabinete, a perfeição do corte da franginha, uma certa bochecha, o olhar graúdo, a boca cheia, o nariz um pouco arrebitado, as mãos no vestido, numa pose que, desde os verdes anos, sempre seu forte, modelo em sua versão mirim que não cansava de ser fotografada.

Eu perdi a tonalidade de sua voz. Não me interessei pelas fitas de você menina, porque, me acovardo, não quero ver nenhuma delas, a fim de não viver outra vez a felicidade de ter para depois me chocar com a perda de modo tão dolorido. Evito, quando posso, o reviver a angústia daqueles momentos, quando não se sabia que o inimigo era tão baixo e rasteiro, capaz de todas as maldades do mundo, levando você aos poucos, retirando-lhe o equilíbrio do deambular, a sensibilidade da pele, a possibilidade de mobilização, não, minha filha, basta uma vez, porque não havia outra alternativa senão, como frisei no poema que escrevi para a missa de sétimo dia, a de tudo assistir impotentes e inúteis, com a rosa de esperança esfarelada no peito.

Você é mais do que as fotos revelam. A dor suave quando me deparava, em processos, com pessoas com o seu nome, nome que um seu primo, nele se inspirando, deu a uma das filhas, e, ao ela se aludir, sem querer, você renasce num lance mágico, trazendo à tona ocorrências da  estudante das primeiras letras que ante notas que mereciam críticas, as contestou, alegando a existência de vários dez, e eu passei a rir, porque estas abarcavam o comportamento, isso e aquilo, que não se levavam em conta no processo de aprovação de ano. E lá se diluiu a reprimenda por ter perdido completamente sua força.

A escola municipal, batizada com seu nome, se destaca. A rua, igualmente, cresce em direção à Serra. Itabaiana, que lhe serviu de berço, guarda o que resta de seu corpo. Sua foto – do dia dos seus quinze anos – brilha no mausoléu, ao lado da placa com a suma: Ontem, uma rosa; hoje, uma saudade.