O amendoim é uma leguminosa originária da América do Sul, com nome científico Arachis hypogaea L., que se destaca pelo seu alto teor de proteínas, gorduras “do bem” (monoinsaturadas) e fibras. Apesar de muitos o considerarem uma oleaginosa, ele pertence à família do feijão e da ervilha, sendo sua semente consumida de diversas formas, como aperitivo, ingrediente culinário em pratos doces e salgados, e fonte do popular óleo de amendoim. Foi difundido pelos indígenas e, posteriormente, pelos portugueses, tornando-se um alimento global.
Como dito, possui um alto teor de gorduras monoinsaturadas (como o ácido oleico) e poli-insaturadas (como o ácido linoleico), benéficas para a saúde do coração. Contém quantidades significativas de fibras alimentares. É uma fonte de vitaminas do complexo B, vitamina E, e minerais como ferro, zinco, potássio e magnésio.
Zeca de Vicentinho Cabeludo, vereador de Moita Linda, deu de plantar amendoim no cemitério da cidade, por trás da capelinha, em dez braças quadradas de terra, que, segundo as más línguas, eram adubadas pelo chorume emanado dos corpos em decomposição. Nada disso. A terra da cidade de pés juntos era boa mesmo na medida, do bom massapê que era a base da terra daquela região. Massapê do preto, bom de tinir.
O amendoim do vereador era diferenciado. Vagens grandes, via de regra com cinco grãos, um mimo. A safra era pequena, pois pequena era a área da plantação. Para consumo familiar. Zeca de Vicentinho era o coveiro, eleito vereador pela quarta vez. Querido na cidade, elegia-se facilmente. Um zelador contumaz do cemitério e, em especial, dos mausoléus dos mais afortunados, que ele polia a cada mês. Porém, verdade seja dita, as covinhas de terra batida também eram zeladas com a mesma presteza. Tudo muito limpinho.
Entrava prefeito, saía prefeito, e Zeca ia ficando no seu lugar. Ai de quem nele mexesse! Seria cutucar uma casa de marimbondos do vermelho, com ferrão de fogo, que dava febre de dias e inchaço de semanas. Como se o seu zelo pelo cemitério fosse pouco e pouca fosse a sua vereança, ele ainda era tocador de pífano e fazia parte da cantoria da igreja do padre Zeca, seu xará. Querido por homens e mulheres, por gente grande e por gente miúda. Brincalhão, loroteiro. Para animar a gurizada, tocava sovaco, como se fosse lá nele um instrumento musical. Uma farra!
Eis que se elegeu prefeita uma neta de Secundino do Gravatá, que fora prefeito por três vezes, nos tempos das urnas enxertadas, do voto em papel, com chapas trocadas na boca das urnas. Não no tempo de agora, com urnas eletrônicas, seguras, a despeito dos despeitados, que querem o voto impresso. Uns loucos, a bem dizer!
A prefeita foi informada de que Zeca, coveiro e vereador, e, diga-se de passagem, vereador contra ela, mantinha o plantio de amendoim no cemitério. Êpa! Nem pensar. Mandaria a vigilância sanitária averiguar o caso. O inverno estava no início, tempo de plantios de um-tudo.
A secretária municipal de Saúde, cunhada da prefeita, de pronto despachou a coordenadora da vigilância sanitária para vistoriar o cemitério. Tudo na melhor configuração. O zelo de Zeca era de impressionar. Mas, lá atrás, brotados em verde, bem verdinho, estavam os pés de amendoim, balançando-se ao vento. A quadra de dez braças ficava numa pequena inclinação, para onde escorria parte de água caída da chuva, para sair do cemitério por uma tubulação que ia dar no terreno baldio de Toinzin Pururuca.
Não havia outra coisa a fazer, senão a interdição do plantio de Zeca. Enfim, a sua destruição. Portaria da secretária determinando as medidas cabíveis. Ao tomar conhecimento da determinação municipal, o coveiro-vereador comunicou à prefeita que estava em greve, a partir daquele dia, por tempo indeterminado. Era o seu protesto. E outra: ninguém entraria no cemitério. O seu amendoim não seria arrancado antes do tempo próprio da colheita. Doesse em quem doesse.
Por incrível que pareça, naquele mesmo dia da comunicação do estado de greve, morreram três pessoas na cidade. Não haveria sepultamentos. O coveiro fez birra. “Não acabo a greve nem que a vaca tussa”. As famílias dos defuntos propuseram à prefeita realizarem os enterros por conta própria. A prefeita ordenou a quebra dos cadeados que guarneciam o portão do cemitério. Era de-noitinha. Quando algumas pessoas adentraram ao campo santo, um vendaval sacudiu a cidade. Telhas de casas foram arrancadas, inclusive da Prefeitura e da casa da prefeita. Árvores foram tombadas. Trovões e relâmpagos. Raios caindo aqui e ali. Um castigo.
O padre Zeca, xará do coveiro, foi ter com a prefeita. “Deixe o coveiro em paz. Você não nada mais importante para fazer”? E foi assim que Zeca, coveiro-vereador, continuou plantando o seu amendoim nos fundos do cemitério. Apetitoso amendoim.