José Anselmo Oliveira
Nos últimos anos, o Brasil tem vivenciado um cenário paradoxal em relação ao HIV e à AIDS. De um lado, há avanços importantes na redução da mortalidade e na ampliação do acesso a tratamentos modernos; de outro, persiste o aumento de novas infecções, especialmente entre jovens e populações vulneráveis. Em Sergipe, os números seguem a tendência nacional, mas com resultados expressivos na queda de óbitos, demonstrando que a prevenção e o diagnóstico precoce são instrumentos fundamentais para conter a epidemia.
De acordo com o Boletim Epidemiológico de HIV e AIDS 2024, divulgado pelo Ministério da Saúde, o Brasil registrou 39.216 novas infecções por HIV em 2024, um aumento de 2,6% em relação ao ano anterior. Já os casos de AIDS, que representam a evolução da infecção sem tratamento adequado, somaram 36.955 registros, uma leve queda de 1,5%.
A mortalidade, por sua vez, apresentou o menor índice da série histórica: 9.157 mortes em 2024, o equivalente a 3,4 óbitos por 100 mil habitantes, uma redução de 12,8% em comparação a 2023. Esse dado reflete o impacto positivo da terapia antirretroviral, que permite que pessoas vivendo com HIV mantenham carga viral indetectável e, portanto, intransmissível.
O perfil epidemiológico mostra que 70,7% dos casos de HIV foram notificados em homens, com maior concentração na faixa etária de 20 a 29 anos. Além disso, 53,6% das infecções ocorreram em homens que fazem sexo com homens, evidenciando a necessidade de políticas específicas para populações-chave.
Em Sergipe, os dados revelam avanços significativos. Entre 2023 e 2024, o estado registrou uma queda de 32% nas mortes por AIDS, passando de 122 para 83 óbitos. Esse resultado acompanha a tendência nacional e é considerado o menor número em mais de três décadas.
No mesmo período, foram contabilizados 346 novos casos de AIDS e 627 registros de pessoas vivendo com HIV ou AIDS. A redução da mortalidade está diretamente ligada à ampliação do acesso ao tratamento gratuito pelo SUS, que disponibiliza medicamentos modernos como a combinação lamivudina + dolutegravir, administrada em dose única diária, facilitando a adesão.
Outro marco importante foi a eliminação da transmissão vertical do HIV como problema de saúde pública. Isso significa que Sergipe, assim como o Brasil, conseguiu manter a taxa de transmissão da mãe para o bebê abaixo de 2%, graças ao fortalecimento do pré-natal, testagem e oferta de tratamento às gestantes.
Apesar dos avanços, os números de novas infecções mostram que a prevenção continua sendo o maior desafio. O Brasil tem adotado a chamada Prevenção Combinada, que reúne diferentes estratégias:
Distribuição de preservativos, ainda o método mais acessível e eficaz.
Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), que cresceu 100% em 2024, alcançando mais de 109 mil usuários.
Profilaxia Pós-Exposição (PEP), indicada em situações de risco após contato com o vírus.
Autotestes e exames rápidos, que ampliam a capacidade de diagnóstico precoce.
Em Sergipe, essas medidas têm sido fundamentais para reduzir a mortalidade e estabilizar os casos. A ampliação da testagem e o acesso universal ao tratamento pelo SUS são apontados como pilares da resposta estadual à epidemia.
O crescimento das infecções entre jovens, aliado à redução do uso de preservativos, exige campanhas de conscientização mais eficazes. O estigma e a discriminação também continuam sendo barreiras para que pessoas vulneráveis busquem diagnóstico e tratamento.
Além disso, o Brasil precisa avançar rumo às metas globais 95-95-95, que preveem que 95% das pessoas vivendo com HIV conheçam seu diagnóstico, 95% estejam em tratamento e 95% alcancem supressão viral. Duas dessas metas já foram atingidas, mas ainda há desafios para garantir cobertura plena.
Os dados recentes mostram que, embora o Brasil e Sergipe tenham alcançado conquistas históricas na redução da mortalidade e na eliminação da transmissão vertical, o aumento de novas infecções reforça a necessidade de intensificar políticas de prevenção. AIDS continua sendo um problema de saúde pública que exige vigilância constante, investimento em campanhas educativas e ampliação do acesso a tecnologias de prevenção e tratamento.
Somente com a combinação de diagnóstico precoce, tratamento eficaz e estratégias de prevenção diversificadas será possível reduzir de forma sustentável os casos e alcançar a meta de eliminação da AIDS como ameaça à saúde pública até 2030.