O hospital desabava numa crise sem solução. A diretoria, eleita mediante método que ninguém colocava no papel, continuava enganchada nos cargos. A ata era redigida e alguém, de confiança, ia de porta em porta arrebanhar assinaturas. No papel, a patacoada. O hospital empiorava cada vez mais, a ponto de até a sala de cirurgia, ante os buracos do telhado e o desabamento do forro, se valer de uma coberta. No entanto, os recursos chegavam. Era o que diziam. Conversa verdadeira ou não, a presidência continuava nas mãos do mesmo médico, ano após ano.
Ocorreu um motim, ninguém sabe vindo de onde. Faixas acriminando o presidente de ladrão apareceram no início da manhã em cercas próximas da urbe. No centro, em paredes de oitão, em lugares estratégicos, o nome do presidente do hospital seguido do termo já declinado. Formou-se um alvoroço. Cuidaram rapidamente de pintar as aleivosias, rasgarem as faixas, o cuidado de fotografar antes, para fins que redundaram numa queixa-crime contra um médico da terra, tido como cabeça do movimento. Acusação bem formulada, redação de advogado da capital.
Foi aí que convocaram outro advogado, iniciativa do médico tido como arquiteto dos ocorridos. Caíram os dois em campo visando rechaçar a queixa-crime. Entre os pontos fracos, a eleição fabricada. Mantiveram contato com um dos diretores, isto é, diretor só no nome e na assinatura da ata da eleição. Assinatura de olho fechado. Sem ler o texto. Assegurou que era assim mesmo. Convidado a depor neste sentido, concordou. A ouvida decorreu. No sábado seguinte, o advogado esteve na Delegacia. No depoimento, nada do combinado constava. O homem faltou com a palavra. Foram ao seu encontro, reclamar que nada da eleição fabricada foi dito. O homem retrucou. Afirmou, sim. Onde? Resposta, na porta da delegacia, na saída, aproveitou para dizer ao delegado como era a eleição, tudo ali, longe da máquina de datilografia e do perguntado respondeu.
Ainda hoje, passados anos e anos, os institutos de processo penal, os maiores processualistas penais do país, advogados dos mais renomados esperam o fato se tornar público para registrarem em seus livros. Um depoimento fora dos autos. Nenhum estudioso ousaria admitir sua existência. Contando o fato, que muito ouvi desde remotos tempos, verificou-se a elogiosa observação de um ouvinte: só em Itabaiana as coisas acontecem assim. Concordei plenamente.
Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras