A indústria da moda está em uma encruzilhada: enfrentar sua responsabilidade na crise climática ou continuar priorizando lucros imediatos a qualquer custo. Com a frequência cada vez maior de eventos climáticos extremos, a necessidade urgente de ação nunca foi tão clara. A transparência na cadeia produtiva surge como um imperativo crucial para enfrentar esses desafios globais e garantir um futuro sustentável para todos.
Neste contexto, os relatórios de impacto são essenciais em níveis globais, nacionais e individuais por marca. Além de revelarem o desempenho econômico, ambiental e social, fortalecendo a confiança com clientes e partes interessadas, esses relatórios também atuam como verdadeiros faróis de transparência ao oferecerem insights valiosos sobre como as empresas de moda estão abordando suas responsabilidades socioambientais.
Podendo ser respaldados por indicadores robustos como o Pacto Global e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), e seguindo diretrizes disponíveis como as da GRI (Global Reporting Initiative), esses documentos passam por estágios de planejamento meticuloso, coleta de dados precisa, análise rigorosa e comunicação acessível. Também desempenham um papel importante no combate ao greenwashing, uma prática onde a sustentabilidade é frequentemente utilizada como mera fachada.
O extrato final desse relatório oferece uma visão abrangente do comportamento da indústria, focalizando tanto desafios emergentes quanto propostas de soluções futuras. Além disso, pode ser ajustado e implementado por marcas de moda em diferentes estágios e portes, sendo uma estratégia essencial para alinhar suas operações com padrões mais transparentes e sustentáveis.
Os índices global e nacional do Fashion Revolution
No próximo 1º de agosto, o Fashion Revolution lançará o novo Índice de Transparência da Moda Global, expondo a alarmante dependência dos combustíveis fósseis na produção de fibras sintéticas como poliéster e nylon, e os consequentes danos ambientais decorrentes dos processos de fabricação, transporte e logística.
Enquanto isso, em novembro, o Instituto Fashion Revolution Brasil lançará o novo Índice de Transparência da Moda Brasil (ITMB), destacando um cenário preocupante observado desde o ano passado: a falta evidente de compromisso das marcas em lidar com a crise climática. Os estudos abordaram questões cruciais como pegada de carbono, soluções circulares, transparência dos fornecedores, combate ao trabalho escravo, diversidade racial e equidade de gênero.
Ao analisar 60 marcas nacionais, foram considerados critérios como políticas e compromissos, governança, rastreabilidade, comunicação e resolução. Marcas como C&A, Malwee, Dafiti, Renner, Youcom e Havaianas se destacaram positivamente, demonstrando um compromisso genuíno com a transparência e práticas sustentáveis. No entanto, 16 marcas falharam completamente em divulgar publicamente seus indicadores essenciais de responsabilidade socioambiental, revelando uma preocupante falta de transparência e responsabilidade.
“The State of Fashion 2024” da McKinsey & Company e BOF
O último relatório lançado no final do ano passado enfatizou projeções globais significativas na indústria da moda, destacando a urgência em reduzir emissões de gases de efeito estufa e fortalecer cadeias de suprimento em resposta à crise climática global. Essas transformações estão reconfigurando como as marcas distribuem e organizam seus produtos, adotando métodos diversos como lojas físicas, plataformas online e outros canais de venda.
Simultaneamente, o aumento da preferência por estilos de vida saudáveis está impulsionando novas coleções voltadas para atividades ao ar livre e bem-estar. A inteligência artificial generativa também está sendo integrada para promover inovação e eficiência no setor.
No competitivo setor da moda rápida, o documento revelou que as regulamentações ambientais recentes estão acelerando a transição de auto-regulação para normas mais rigorosas, pressionando marcas e fabricantes a revisarem seus modelos de negócios para garantir transparência e responsabilidade social e ambiental.
Exemplo latino da marca La Vestiduría
A marca uruguaia La Vestiduría é um exemplo inspirador de compromisso com a sustentabilidade na moda latino-americana. Fundada em 2020, a empresa se destaca não apenas pela qualidade de suas peças, mas também por sua forte ética de produção e responsabilidade ambiental. Todas as roupas são feitas localmente no Uruguai, em colaboração estreita com oficinas, costureiras e tecelões locais, promovendo um impacto positivo na indústria têxtil regional.
A marca lançou em fevereiro seu relatório de sustentabilidade, marcando um importante marco para a empresa. Este relatório detalha o progresso alcançado durante a temporada de primavera-verão de 2024 e estabelece metas ambiciosas para o futuro. A marca também desfilou sua coleção durante a Universo MOLA Fashion Week, em março, em Punta del Este.
Além de aderir aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, a empresa integra práticas sustentáveis em cada aspecto de sua produção. Na última coleção, 28% das peças foram feitas com materiais reciclados e 60% com materiais naturais, incluindo tecidos como ECONYL® e algodão reciclado.
A responsabilidade social também é central para La Vestiduría, que destina parte de suas vendas para apoiar causas humanitárias e ONGs, como Animales sin Hogar.
Para a indústria da moda alcançar um futuro sustentável, todas as empresas devem fazer o esforço de adotar práticas transparentes e responsáveis. Ao tomar medidas concretas e comprometer-se com a transparência, as empresas não apenas mitigam os impactos negativos, mas também constroem um legado de sustentabilidade e prosperidade compartilhada.
É hora de cada marca assumir seu papel na construção de um setor da moda verdadeiramente sustentável, onde lucro e responsabilidade climática caminhem juntos em direção a um futuro melhor para todos.