ARACAJU/SE, 21 de julho de 2025 , 4:34:43

O jogo comercial que pode favorecer o Brasil

Nos últimos dias, o que mais temos visto na mídia é a polêmica sobre a recente decisão do ex-presidente Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil a partir de 1º de agosto de 2025, que reacendeu um debate fundamental sobre equilíbrio nas relações comerciais internacionais. Apresentada como uma retaliação política ao Judiciário brasileiro e às regulações sobre plataformas digitais americanas, a medida carrega implicações econômicas profundas, tanto para o Brasil quanto para os Estados Unidos.

Diante desse cenário, o governo brasileiro já sinalizou que utilizará a Lei da Reciprocidade Econômica, sancionada pelo presidente Lula neste ano, como instrumento legítimo de defesa nacional. A legislação autoriza contramedidas proporcionais a qualquer país que imponha barreiras unilaterais ao Brasil, inclusive com a suspensão de benefícios comerciais ou de propriedade intelectual. Pois bem, vamos descomplicar a economia?

 

A posição americana: mais protecionismo, menos racionalidade econômica

A decisão de Trump tem forte conteúdo político, mas sua aplicação atinge em cheio setores estratégicos do comércio internacional. Produtos como café, carne bovina, aço, suco de laranja e aviões da Embraer estão entre os principais alvos da tarifa. O argumento apresentado por Trump se baseia na “defesa dos interesses americanos”, mas ignora um dado objetivo: os Estados Unidos são superavitários na balança comercial com o Brasil, ou seja, vendem mais ao Brasil do que compram. Ele realmente quererá sair perdendo?

Além disso, ao sobretaxar alimentos e insumos brasileiros, os EUA correm o risco de criar um efeito reverso: os custos para o consumidor americano tendem a subir, afetando diretamente o preço de itens como carne, suco de laranja e café nos supermercados. O próprio mercado financeiro já reagiu: as cotações do suco de laranja subiram cerca de 25% desde o anúncio da tarifa. O que era uma medida de força política, pode acabar se tornando um tiro no pé.

 

A resposta brasileira: firmeza com diplomacia

Do lado brasileiro, a reação tem sido firme e pautada pelo equilíbrio. O governo Lula deixou claro que busca resolver a questão pelo diálogo, mas está juridicamente respaldado para reagir com a mesma intensidade. A nova Lei da Reciprocidade é moderna, alinhada às práticas internacionais e traz segurança para o Brasil enfrentar medidas protecionistas com proporcionalidade. Lula entrou de sola e finalmente tomou uma medida que mostra a força de seu governo, diante de tantos problemas que tem vivido internamente.

Além disso, é importante destacar que os Estados Unidos dependem de diversos produtos brasileiros para manter sua cadeia produtiva e abastecimento interno. O aço brasileiro, por exemplo, é essencial para a indústria automotiva e de construção americana; o petróleo do pré-sal abastece refinarias da costa leste; e os alimentos vindos do Brasil atendem parte significativa do consumo nacional. Ou seja, há uma dependência que não pode ser ignorada. Se Trump quiser encarecer o custo de vida dos americanos, vai dar ruim pra ele. Pois o Brasil tem nesse lado uma grande vantagem.

 

Efeitos internos

Outro ponto pouco comentado, mas de grande relevância, é que a restrição de exportações para os EUA pode elevar a oferta interna de alimentos e produtos do agronegócio no Brasil. Com mais disponibilidade no mercado doméstico, os preços tendem a cair, principalmente em setores como carnes, grãos e sucos, beneficiando a população brasileira com menor custo de alimentação.

Além disso, o Brasil não depende exclusivamente do mercado americano. A crescente diversificação dos parceiros comerciais; incluindo China, países árabes, Europa e América Latina; permite redirecionar exportações para outros destinos com relativa agilidade. Esse poder de escoamento alternativo coloca o Brasil em posição de vantagem estratégica no tabuleiro global.

 

Retaliação é defesa legítima

Em um ambiente de globalização e interdependência, decisões unilaterais como a de Trump ferem o espírito da cooperação internacional e prejudicam a todos, inclusive o povo americano. A retaliação anunciada pelo governo brasileiro não é uma ação de revanchismo, mas uma resposta equilibrada e necessária para garantir respeito e paridade nas relações comerciais.

Proteger os interesses do Brasil, especialmente em setores tão estratégicos como o agronegócio, siderurgia e energia, é essencial para garantir empregos, renda e segurança alimentar. E, paradoxalmente, este confronto pode acabar revelando ao mundo que o Brasil tem força, resiliência e alternativas para continuar crescendo, com ou sem o mercado americano.