ARACAJU/SE, 25 de maio de 2025 , 4:29:41

O mistério no cinema

O melhor do filme, no matinée do cinema de Zeca Mesquita, era o fechar as janelas, lado direito, duas ou três, ocasião em que os gritos e urras tomavam conta, sinal de que era chegada à hora do seu início. No cinema do padre, de tamanho sumamente superior, se fechavam as portas, do lado esquerdo. Nesse igualmente a algazarra, como manifestação de alegria, surgia do nada. Acrescentava-se, no último, simultaneamente, de Gleen Miller, a música Moonlight Serenade, e, então, não havia dúvida alguma, o filme ia começar, fosse o qual fosse, de preferência os caubóis, o saloon sempre bem habitado, onde, a qualquer hora do dia, o pequeno copo de uísque imperava, palco o saloon de muitas mortes, afinal, todos andavam com um revolver na cintura, óbitos que também se motivavam quando, no jogo de cooper, algum trapaceiro se utilizava de carta escondida na manga da camisa para ganhar. Morria ali mesmo.

Tudo se refazia, cena por cena, como se fosse uma lei que obrigasse os filmes de caubói ser cópia de outro e outros, imitação que chegava até o cinema brasileiro, nos filmes da Atlântica, onde os nossos bandidos, inspirados nos gângsteres americanos, andavam impecavelmente em bonitos ternos e cabelos encharcados de brilhantina, dois ou três, o cinema americano servindo de modelo, na concretação de cenas que só faltavam ostentar o carimbo do Made in USA.

Contudo, tudo passava despercebido. O importante, no final, era o artista matar o bandido, ou prendê-lo, o beijo dado na moçinha, essencialmente cerimonioso, sem o uso da língua, limitado ao toque de bocas, ou o herói se afastar, silenciosamente, do local, para evitar os agradecimentos de todos por sua atitude, as ruas sempre cheias de gente para lá e para cá, e, assim, tudo se repisava, o cinema sempre cheio, cadeiras sendo colocadas quando não havia lugar para as fixas, caso do de Zeca Mesquita, e, todo mundo feliz por estar no matinée.

O que nunca obtive uma explicação ocorria no cinema de Zeca Mesquita. A parte de cima, justamente a que melhor visão proporcionava, já a alcancei como privativa da molecada, da plebe ignara, ninguém de boa família ousando ali subir para assistir ao filme. Mulher, nem sonhar. No fundo, um pálido retrato das castas indianas. Ninguém tocava no assunto.