Em qualquer instituição, pública, privada ou eclesiástica, como a Igreja Católica, há de ter-se organização, mas, é também imprescindível, ter-se harmonia entre todos que a formam ou que nela laboram.
A Igreja Católica tem um modo organizacional que demanda determinação, e, igualmente, compreensão e apoio da parte de quem tem autoridade e da parte que se submete, canonicamente, à autoridade. A autoridade provém das normas, que, por sua vez, devem se situar no tripé que forma a vida da Igreja: a Palavra, a Tradição Apostólica e o Magistério. A autoridade nunca deve ser confundida com autoritarismo.
Em toda instituição, por melhor que ela seja conduzida, há dúvidas, incertezas, insegurança. É absolutamente natural. E deveria haver sempre a busca da tolerância, que exige respeito mútuo entre todos os seus membros. Respeito implica em diálogo aberto, franco, mirando a convergência. Divergências podem surgir, mas, se há mentes e corações voltados para a luz, aos poucos tudo poderá se harmonizar. Nem sempre é fácil, claro. Todavia, não custa tentar.
A Arquidiocese de Aracaju, como todos, sobejamente, o sabem, passou por momentos angustiosos, desde a enfermidade que, infelizmente, acometeu Dom João. Há um ano e poucos dias, Dom Josafá assumiu os destinos da Arquidiocese. De lá para cá, ele vem tomando pé de tudo que lhe compete.
Para alguns, ele demorou a tomar algumas decisões. Para outros, ele fez bem em ponderar as situações encontradas. Enfim, recompôs os Colegiados e nomeou o novo vigário geral. Nos últimos dias, nomeou o novo ecônomo e o novo chanceler. Na gestão, qualquer dirigente procura imprimir o seu modo de conduzir, seja lá onde for. Nada contra ou a favor de A ou B, porém, quem dirige deve sentir-se à vontade com quem acha que pode lhe ajudar mais a tocar a gestão. É a chamada busca de perfis afins, como se diz no jargão administrativo.
A Igreja, porém, não é uma instituição a ser administrada com propósitos empresariais, mas, juridicamente, ela é uma entidade que também se submete ao ordenamento jurídico do país, nos pontos delineados pelo acordo bilateral Brasil/Santa Sé. Logo, tanto as Dioceses quanto as Paróquias devem também se voltar para o atendimento das demandas advindas do citado ordenamento. Têm, pois, que fazer gestão, além do que é a sua essência: anunciar a Palavra, ministrar os Sacramentos, salvar almas.
Uma das situações que causam rebuliço numa Diocese são as mudanças periódicas dos párocos e vigários. Às vezes, um problemão! Não há como atender a todos, como todos almejam. Daí surgem contrariedades. Isso é comum. O importante, acho, é que os padres tenham a liberdade de abrir o coração perante o seu Bispo, e que este possa ouvir a todos, mesmo que nem sempre possa a todos atender como seria do agrado de cada um.
Após dois anos como vigário na Catedral Metropolitana, em perfeita combinação com o pároco, padre Peixoto, como ele mesmo o diz, eu sugeri a Dom João, para mim, duas Paróquias, ambas em conjuntos residenciais, sendo uma delas “muito periférica”. Não fui atendido. Ele me nomeou para a Santa Dulce, que era um “barracão”, sem portas e janelas, salvo velhos portões frontais, sem reboco, sem piso, sem forro, com iluminação precária, mas devendo, por oportuno, ser louvados os que por lá tinham passado ou lá estava, e que conseguiram fazer o que foi possível.
Quando eu fui conhecer a Paróquia, que fora erigida em 25 de maio de 2012, como Bem-Aventurada Dulce dos Pobres, desanimei ao ver a condição da igreja. Ao assumir, três meses depois, dos nove padres que compareceram à minha posse, oito me disseram: “Não fique aqui. Aqui não é lugar para você”. Entretanto, por obediência, eu fiquei. Como desafio, eu fiquei. Com o apoio da comunidade, o trabalho foi fluindo.
Eu sei como é deveras importante o diálogo franco entre o Bispo e os padres. O Clero é o suporte do Bispo. Os padres representam-no nas Paróquias. Todos devem, assim, conviver de forma harmoniosa, até mesmo quando um ou outro padre não possa ser atendido no seu desejo disso ou daquilo. Há situações que devem ser bem ponderadas. Os padres precisam, uns mais do que outros, por circunstâncias variadas, da atenção do seu Bispo. E este deve lhes dar essa atenção.
A missão de Dom Josafá é árdua, como talvez tenha sido nalguma das Dioceses pelas quais ele passou anteriormente. Aqui, ele tem a tarefa de reorganizar a Arquidiocese em vários aspectos. Que possa contar com a colaboração e a compreensão de todos nós. E que ele, em sua sapiência, seja sempre o que, na minha modesta opinião, um Bispo deve ser: pai e irmão. Ouvindo, compreendendo, consolando, exigindo, dizendo “sim” ou “não”, mas dando esperanças quando for mesmo necessário dizer “não”. Função de pai e irmão. Que Deus o ajude, para o sucesso de sua missão e para o bem de todos nós, do Clero e do Laicato.