A vida tem seus inúmeros percalços, seja lá onde for, quando for, ou com quem for. Como dói ver famílias se desestruturando, desfazendo o vínculo que foi construído desde o primeiro olhar de um para o outro e que se foi estreitando com a realização do matrimônio. Uso a palavra matrimônio, e não casamento, exatamente para dar o sentido de sacramento, como sói ocorrer com os cristãos católicos. A desagregação familiar sempre traz dissabores para o casal, ou, no mínimo, para um dos dois, ora mais, ora menos.
Tenho ouvido pessoas casadas em confissão, no momento em que o matrimônio começa a afundar, ao que parece, porque não está, ou nunca foi, tratado como sacramento.
Como advogado militante no passado, atuei em diversos casos em que os casais foram desgastando o vínculo que os unia, chegando à separação judicial ou ao divórcio. O que me aturdia era o caso dos filhos menores, quando os tinham. Por vezes, as crianças eram as mais prejudicadas com o desenlace matrimonial. Inclusive, um ou outro lado se servia, indevidamente, dos filhos para atanazar a outra parte.
Para quem exerce o ministério sacerdotal não é fácil conviver com o peso de confissões em que o homem ou a mulher se acha em estado de desassossego por conta de uma separação à vista ou já consumada.
Tem faltado diálogo entre muitos casais, mas também um pouco mais de tolerância. Todavia, tem faltado, sobretudo, compreensão e respeito. De um ou de outro lado. E, assim, as famílias vão desmoronando.
Outra situação de grande percalço da vida, universalmente falando, têm sido (e isso acontece desde sempre) as desavenças entre os povos e as nações, que acabam gerando as guerras, intermináveis, pois elas se sucedem, como as que agora estão em curso, alarmando o mundo inteiro.
As guerras são terríveis, devastadoras, que não reconhecem rostos. Homens, mulheres ou crianças são todos iguais debaixo dos bombardeios. Todos podem morrer. Todos podem perder vidas e bens. Ruas, bairros e cidades são destruídos. Países são desmantelados, na economia, na infraestrutura e em tantos outros aspectos.
Aí estão os embates entre Israel e seus eternos desafetos. Entre a Rússia e a Ucrânia. Entre Israel e o Irã. Sem contar com inúmeros conflitos que ensanguentam o solo africano, ou que acendem o temor de uma guerra nuclear entre a Índia e o Paquistão.
Além de outras demandas encravadas em diversas partes do mundo, como a luta de alguns países da América Latina contra o narcotráfico, ou como a, até agora inglória, luta brasileira contra organizações de malfeitores que, no caso do Rio de Janeiro, já se tornou rotina os bandidos levarem o terror à cidade, ou a partes dela, quando bem querem e entendem.
Nessa particularidade, entretanto, uma situação deve estar clara: os bandidos que estão assentados nos morros não compram, diretamente, drogas e armas no exterior. O morro não compra lá fora. O asfalto, sim, é o comprador. E, de preto, o asfalto só tem a cor. Quem nele pisa diariamente tem colarinho branco.
Portanto, os percalços da vida continuam e continuaram enquanto o mundo for mundo. Outro percalço que não deve ser relegado é o que vem ocorrendo com o Planeta: a destruição do meio-ambiente. Chegamos a um ponto crucial, porém forças econômicas e políticas, aqui entre nós ou alhures, não estão nem aí para o problema. Aliás, essas forças não querem enxergar o problema. Querem, sim, expandir suas pérfidas ideias no sentido de continuar devastando em nome do “progresso” e do “desenvolvimento”. Ou seja, em nome da ganância.