O que dizer da política brasileira dos últimos tempos? Com a queda do regime militar implantado em 1964 e ruído em 1985, parecia ter acabado a polarização do bipartidarismo. Ledo engano! Ela voltou a partir da eleição na qual se defrontaram Dilma Rousseff, indo para a reeleição, e Aécio Neves, que, em determinado momento das apurações, parecia prestes a eleger-se. O Brasil cindiu. De lá para cá, só piorou. Veio o impeachment de Dilma, com ou sem pedaladas, com ou sem motivação jurídica, mas, sim, com acentuadíssima motivação política. Quer se queira ou não, impeachment é, sobretudo, um instrumento de acentuada conotação política.
A polarização foi acelerada com a última eleição presidencial, pondo frente a frente Lula e Bolsonaro, e, muito mais, petistas e bolsonaristas. Deu o cão. O Brasil passou a respirar por meio desses dois segmentos políticos, como se o país, a nação brasileira, e a vida nacional se reduzissem a essa bestial polarização, que emburreceu e embruteceu muita gente. Que pena!
Ingredientes não faltaram para culminar com o ápice da polarização: a gana do poder pelo poder a qualquer custo, e, diga-se, de lado a lado; o chamado “gabinete do ódio”, sabendo-se que o ódio vai além desse suposto ou real “gabinete”, estando estampado em muitos rostos, daqui ou dali, com maior ou menor ênfase; os delírios esquerdistas e ultradireitistas, que, no último caso, encontrou sua vazão em um caminho nefasto, desesperado e midiático (com mídias imundas, mas que também podem ser encontradas no outro lado, em escala talvez menor, sabe-se lá).
Diante desse quadro, o Brasil só tinha e tem a perder. Estão sufocando a Democracia e alguns parecem querer jogá-la por terra, explodida, massacrada, assassinada, não a Democracia em si, mas alguns dos seus próceres, ou seja, de autoridades da República. Insanidade. Vilania.
Uns acusam os outros de quererem a volta da ditadura, com oficiais de alto coturno, da reserva ou da ativa, saudosos do regime implantado em 1964, que, a despeito de “afirmar a ‘democracia’, defender a ‘família’ e honrar a ‘pátria’”, na verdade prendeu, torturou e assassinou quem se pôs contra aquele período de autoritarismo desenfreado. Os outros acusam uns da implantação de uma tirania do Judiciário, especialmente, do STF e do TSE, para salvaguardar os interesses do atual grupo que está no poder central da República. Muita doideira.
Tudo, de lado a lado, não passa de um jogo descarado, que só serve para paralisar a Nação, depauperar o povo e reduzir a Pátria àquilo que pode servir aos interesses de cada agrupamento. Aí, parece valer tudo. Não! Não vale tudo. Não vale essa perniciosa polarização, os embates de embusteiros que só pensam em seus próprios umbigos, estejam em qual lado estiverem. Não vale acusar sem provas. Não vale explodir. Não vale articular a morte de ninguém. Não estamos na época da barbárie, da força bruta.
Seja lá onde for, nas conversas de bar, nas rodas de amigos, nos grupos de Whatsapp, por vezes nas salas de aula etc., lá está presente a polarização. Às vezes, rasgam-se, dilaceram-se. Coisa mais triste.
O Brasil precisa respirar, viver, seguir em frente. Soltem as amarras que o prendem. Libertem-no dessa monstruosa polarização. Esqueçam o salvamento pelos ETs. Abandonem os mitos e os heróis. Não precisamos de nenhum deles. Precisamos, sim, que cada um de nós possa fazer, e fazer bem feito, a parte que cabe a cada um e a cada uma.
Não há risco de o Brasil vir a sofrer com uma gangrena. Porém, o risco é mais do que patente de que alguns brasileiros se deixem “engangrenar” por suas ridículas paixões desenfreadas e contagiosas. Por suas celeradas maquinações espúrias para torpedear o processo democrático, tão duramente reconquistado, mas que, ao longo de toda a República, sempre foi contrastado e abalado. Que não mais o seja!
Combater os corruptos, comprovando-se os atos de corrupção, dentro do arcabouço estritamente legal, é dever do Estado. Doa a quem doer. Como é também dever do Estado combater os delírios de quem acha que um soldado e um cabo são suficientes para fechar o Supremo Tribunal Federal. Se essa fala tresloucada pode fazer escola (e parece que tem feito), que se afie ainda mais a espada da Justiça. Não é de outro modo que a banda toca. Para lá ou para cá.