Após a finalização do inquérito policial do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (DEPATRI), da Polícia Civil, que indiciou três pessoas por crimes de estelionato envolvendo a empresa JR/Select Investimentos, cuja história já contei aqui em nossos escritos, há alguns meses, o clima entre as vítimas lesadas é de que seja feita justiça, pelo menos com a prisão dos envolvidos.
Somente a prisão mesmo será algo de fato concretizado, pois o valor apurado somente nessa operação fraudulenta investigada, cerca de 60 milhões de reais, simplesmente desapareceu. A pergunta que não foi respondida é justamente: “onde está o dinheiro das pessoas?”. Segundo a investigação, os investimentos simplesmente não aconteciam. Isso nos leva a concluir que essa soma absurda serviu para bancar um estilo de vida extravagante e luxuoso, além de sustentar a prática de captação de mais investidores para aumentar os valores subtraídos das pessoas.
O clube de investimentos que prometia até 2% ao mês encheu os olhos das vítimas, pois alegava investimentos diversificados, como criptomoedas e empreendimentos imobiliários no formato de associações. Inclusive, as próprias associações investiram dinheiro dos compradores de imóveis nesse esquema, e o dinheiro também desapareceu.
Consultando os processos de primeiro grau, foram identificados 40 processos envolvendo as pessoas físicas indiciadas, além de vários réus, entre eles, empresas de empreendimentos imobiliários associativos. Ou seja, as pessoas que investiram buscaram recuperar o seu dinheiro, mas os gestores das associações, confiando no administrador de vida luxuosa, ostentada nas redes sociais com mais de 115 mil seguidores, também quebraram a cara e perderam o dinheiro das vítimas, compradoras inocentes e desavisadas, que acreditaram no negócio.
Toda pirâmide financeira um dia rui. Aqui já expliquei como funciona um esquema Ponzi, método utilizado na captação desses R$ 60 milhões que sumiram das pessoas. Existem casos de processos individuais que ultrapassam os R$ 3,3 milhões de investimentos que simplesmente sumiram. Desde o ano passado, quando o esquema veio à tona, várias pessoas entraram na Justiça para recuperar seu dinheiro, mas nada está sendo recuperado. Viver como rico às custas do dinheiro dos outros é realmente um bom negócio, mas uma hora a associação criminosa iria cair.
Entre os indiciados, uma pessoa tem ligação direta com o assassinato do sindicalista Carlos Gato, ocorrido em 2001, mostrando que o crime é prática contumaz na vida dessa família. Esse é um adendo que não deveria fazer, mas que realmente me chama a atenção pelo fato de que o crime na época provocou muita repercussão no estado.
Voltando ao assunto do indiciamento das pessoas pelos crimes de estelionato, formação de quadrilha e associação criminosa, em setembro de 2023 foi identificado que dinheiro de obras de sistema associativo também estava perdido no que na época somava 54 milhões de reais. Quando da descoberta, houve a confirmação indicando que o dinheiro das pessoas que compraram imóveis desse modelo estava entre o valor astronômico que desapareceu.
A segunda pirâmide, que ainda está em processo de investigação, envolve uma soma superior a R$ 40 milhões. A empresa Manager Trading, juntamente com seu proprietário, está enfrentando 77 ações na Justiça, somente nos processos de primeiro grau. E mesmo com a prisão e subsequente soltura do elemento, não houve identificação de onde o dinheiro das pessoas foi parar.
Neste segundo esquema, existem recursos de sistemas associativos também, já que empresas do segmento imobiliário desse tipo de operação aparecem como rés e reclamadas nas peças consultadas. Somando as duas pirâmides, são mais de 100 milhões de reais que desapareceram e nunca mais voltarão.
As pessoas, em um mundo no qual a informação circula com muita rapidez, deveriam estar mais antenadas no que diz respeito a esse tipo de operação, tanto para os investimentos que prometem lucros exageradamente altos quanto nas operações imobiliárias que são excessivamente baratas. Operações essas que envolvem até mesmo esquemas de lavagem de dinheiro proveniente de origem duvidosa.
Estive recentemente conversando com pessoas do segmento no Rio de Janeiro e pude constatar que dinheiro de origem criminosa está financiando esse tipo de negócio. Então, vale a pena arriscar seus recursos em investimentos que, se não terminarem com a prática de um crime, podem ser de origem do mundo do crime?